Wednesday, November 29, 2006

Trim..Trim...

Tenho esperado com amargura seu sinal de vida. Ela que agora viaja e disse que me ligaria “depois das 7 ou 8” ainda não ligou. Então revivo uma linda crônica de Rubem Braga, na qual ele faz uma ode as mulheres que esperam os maridos, esperam o marido voltar da boêmia. Eu espero com ouvido angustiado e atento a ligação de minha namorada que se encontra num outro país da América do Sul. E dói muito a cada tia que liga querendo falar com minha mãe, ou a cada colega de minha irmã que, perversamente, busca, mais uma vez, saber a matéria da prova. Ah... e o telefone abusa de sua essência demoníaca. Esperança e desalento revezam na minha guarita. A Internet, as vezes amiga, também nada me traz. Os dias que esperaria por uma carta, há coisa de 20 anos atrás, viram 13 minutos em tempo de Internet a cabo ligada 24 horas. A idéia de que a qualquer minuto ela ligará ou mandará um email preenche de esperança meu pobre peito. E me dano a sofrer vendo que ela ainda não ligou ou “se conectou”. Tentando ser romântico nos idos de cable modem continuo sofrendo e esperando.

Sunday, November 26, 2006

Quando estava em duvida sobre o vazio de minha vida,
ouvi uma canção do Lulu Santos,
enquanto esperava na fila do supermercado...
Vendo que eu me encontrava ali, naquela musica,
tive então certeza da mediocridade de minha vida.

Monday, November 13, 2006

Tomar parte na guerra ou pegar um papel principal na gaiola?

A nossa vida vai transcorrendo apesar e por causa da gente. É como se fôssemos vários cavalos correndo ao mesmo tempo, a disputar alguma coisa, que nunca sabemos o que seja (alguns fingem que sabem), e às vezes, a gente nos passa, depois passamos a gente mesmo... eu me passo, e depois tomo a dianteira e vai assim. O tal do Freud mandou bem quando falou que a consciência não era dona de sua casa. E eu que tenho medo (e preguiça) dos rituais e dos lugares sacrossantos, não vou aqui me meter com a psicanálise, até porque sou mesmo muito medíocre (e porque não profano) para falar disso. Não saberia dizer, mas vou roubar a citação dele para meus fins particulares. Isso de não ser dono da própria casa é interessante, ainda se pensar que nós somos diversos inquilinos de nós mesmos. Tem sempre alguma coisa nossa que escapa à buscada coerência. Há sempre eu que ainda joga Nintendo e vê os filmes do Van Damme às terças de tarde. E Van Damme nunca ficou muito bem com o Brahms, o Ranciére, ou o Nietzsche. E imagino a vergonha que devem ter passado vários militantes marxistas comunistas revolucionários, ao admirar e se extasiar com uma flor, esse símbolo máximo do ideal burguês. E algumas feministas perceberam que não adianta muito ter lido o segundo sexo, ocupar algum posto importante, se o sonho dourado do príncipe perfeito ainda bate à porta. Se o príncipe perfeito não troca a pelada de terça (a choppada de sexta, ou o sagrado futebol de domingo com os amigos) por nenhuma fralda suja da terra, e que se ela achar ruim continua apanhando e vai ser mal-tratada do ônibus até a delegacia, onde se convencerá que o marido bateu nela por culpa dela mesmo.
E foi matutando sobre isso, de consciência e existência, que um eu, que vinha pelas beiradas, encontrou-me no sábado acompanhado de uma cerveja e de um rock. Fiquei dos 12 anos de idade, até os não posso falar quais, ouvindo roquenrol sozinho, numa sala escura, passando com naturalidade de Oasis a Jethro Tull, entremeado por Led, Beatles, Stones...Ouvindo o rock mais óbvio, enquanto outros jovens se esfregavam em mulheres (meninas)... enquanto havia moças passando lá fora, com os braços livres e soltos, eu ficava dentro de casa, e nem havia aí o Braga para me consolar e me explicar que isso é muito comum. Essa experiência sonora (e existencial) levou à composição do meu tipo e de minhas neuroses, como a de inventar inveja boba de meninos de 13 anos que estão “dandos uns amassos” na menina feia de 11, na outra esquina do Colégio. O que percebo é que tem gente que se esfrega da mesma forma como fazia nos seus 12 anos, e que consciência e existência, pensamento e ação, são dialéticos até mesmo nessa hora. Eu que defendo o abstrato acabo também defendendo o concreto e me perdendo frente a um ortodoxo purista. Ou a um Sócrates sacaninha. Mas a tal dialética, palavra que abre todas as portas nas ciências humanas, acaba salvando. Há necessidade de se afastar, em alguns momentos, para depois voltar à ação. Práxis.
E o eu que vinha morando num bairro de classe alta, de uma pequena metrópole brasileira, acabava encontrando comigo que vinha sendo marxista em tempo errado, socialista, democrata radical e o escambau. Mas o adolescente que ouvia musica (certo seria dizer canção) como quem ouve poesia, ao escutar certa vez, num rock, a pergunta, a pergunta fatal... se ele trocaria a caminhada em parte da guerra por um papel principal numa gaiola... ficou parado pensando... E é uma pergunta essencial, tipo quebra-cabeça de 1000 peças, boa para pessoas de 8 a 80 anos. Eu agora ouve Paulo César Pinheiro, lê Cyro dos Anjos, bebe, tem trocas corporais, não fuma, sua, é coabitado por outros hábitos burgueses, indigna-se com a dominação por toda a vida social da forma capitalista liberal de ver a vida (a que, entre tantos outros postulados, diz que você deve extrair o máximo gozo da mulher, ou do parceiro, e trabalhar o mínimo possível para isso), também pensa o que é política, esboça alguma participação, critica muito, discute com os amigos por email, mas permanece fiel a Rubem Braga, nutrindo especial preguiça pelos beats e a sua América selvagem. E o cavalo parou naquela pergunta fundamental que ficou escondida....Tomar parte na guerra ou continuar liderando a vida na sua gaiola? Será que não dá pra convencer as paredes do quarto e simplesmente dormir tranquilo? Mas a existência continua a mesma, a vida continua besta, o almoço continua sendo servido e os pratos lavados por mãos negras. E o carro continua naturalmente parado ali na garagem. As pessoas continuam dormindo na rua, e continuamos a falar do frio de rachar sem conectivos entre essas duas ultima expressões...E a existência continua dependendo dos nossos movimentos e não das nossas perguntas que continuam sendo essenciais para saber se tomar prozac ou não. A gasolina aumentou muito, a cerveja, o arroz, o feijão, mas é o preço da coca-cola que assusta. E tomar parte na guerra na casa da sagrada mãe é sempre muito fácil. A toda hora se pede “altas” e pára a brincadeira como qualquer “carta-branca” dos jogos infantis. A consciência revela a necessidade do salto na existência. Não o performático, mas o real. O salto no mundo. Tomar parte da guerra não é uma escolha simplesmente. É a escolha.

Friday, November 10, 2006

A GENTE NÃO QUER SÓ COMIDA. REVISITADO

Na noite do ultimo sábado, dia 25 de março, vosso estimado repórter da vida passeava de carro pela cidade de Belo Horizonte. Passeava acompanhado de minha distinta e mui formosa senhorita, da irmã dela e do namorado desta. A vida se encontrava livre de aborrecimentos, além daquele proveniente de uma chuva fina. Uma chuva de março como diria um meteorologista bossanova. Tudo soava belo e tranqüilo, e mesmo com a chuva, diria até que aquele fora um dia bonito. Estávamos passeando em companhia alegre e bem humorada, indo a caminho de lugar nenhum, sem pressa ou preocupação. O carro nos proporcionava conforto, quase tédio, esta maravilha da natureza. E nesse carro havia o controle da temperatura ambiental, o ar condicionado garantia um frio bastante aconchegante. Sentia-me um europeu. Avançávamos pelas ruas, sem pensar na vida lá fora. Os carros com ar condicionado parecem nos dizer: “A temperatura do ambiente pode ser controlada”. Mas no fundo, eles nos dizem: “Podem se afastar do mundo, e seguir, como uma célula à parte da vida, independentes do que acontece lá fora”. Eles nos dizem que podemos nos afastar desse mundo daqui debaixo (do mundo real) e fingir que estamos apenas de passagem, o próprio “sueco em trânsito”, de Rubem Braga. Parados num sinal, aproximou-se de nós um menino que, em outro veículo de informação, seria definido como um “menor”.
E nós naquela incrível célula auto-suficiente, nos vimos frente a frente com o mundo, isso porque os vidros, infelizmente, ainda permitem duplo contato visual. E a criança colou seu rosto feio e sujo, no meu vidro, e eu que havia lido na semana passada o psicólogo social, George Herbert Mead, tive que estabelecer um contato intersubjetivo com aquela criança (que ali representava o mundo inteiro). Minha senhorita, ocupada em dirigir seu carro, disse que havia uns biscoitos no carro, e me pediu para pegá-los no porta luvas e dar para o menino. Enquanto abria o vidro, procurava os tais biscoitos no porta luvas, mas não os encontrava. Pedi para a criança esperar um pouco e, enquanto ela esperava e olhava pra dentro do carro, eu continuava procurando, revirando a enorme pilha de cds de dentro do porta-luva.
O menininho, sem me avisar nada, (qualquer coisa, que possibilitaria então uma resposta mais bonita de minha pessoa, e que talvez entrasse até no capítulo 7 de minha autobiografia) falou assim simplesmente: “Me dá um CD...?”
E eu que procurava lhe dar comida não entendi que ele também queria diversão e arte.
Ah... criança que perigo pode ser você com aquele disco da Nina Simone. Não faça isso, continue, por favor, a comer biscoitos. Lembrei-me que o Sergio Porto certa vez encontrou com o Cartola lavando carros, quando de fato o Cartola, já era Cartola. Quando foi confrontado com aquilo que para Serio Porto, seria um paradoxo, um artista daquele estatuto lavando um carro, o músico respondeu ao humorista que ele também precisava comer. Porto pegou o Cartola e naquele mesmo momento o levou para gravar um disco.
Seria aquela criança um cartola, e eu um mau Sérgio Porto?
Na verdade eu acabei dando o biscoito para a criança, até porque, de boca cheia ela ficaria calada.