Tuesday, May 06, 2008

O fascismo nosso… Isstudo de um caso I

Num dos últimos textos deste Blog narrei minha desventura a bordo de um ônibus, na companhia de um certo engenheiro militar. Nunca havia pensado a respeito desse arquétipo, engenheiro militar, pois parece algo inverossímel. Como se já não bastasse ser engenheiro ou militar. Bom, mas o fato é que por mais louco que possa parecer esse sujeito realmente falou as coisas citadas no texto. Talvez tenha esquecido algo (ele falou também da fama de valente dos homens de sua cidade), mas o principal está aí. Como foi comentado pelo Chico, eu talvez devesse ter conversado com o sujeito e interpelado-o. Outros achavam que perdi a chance de tirar um babaca de circulação (o que obviamente passou pela minha cabeça). Numa disciplina do mestrado, quando narrei o fato, uma colega perguntou se o sujeito não achou ruim o meu cabelo (meio hippie), o fato de ser psicólogo ou mesmo estudante de mestrado. Ou seja tudo terrorista comunista. Mas de fato eu não existia para aquele sujeito, ele apenas disparou sua metralhadora giratória, e eu ali, me reduzi a escutá-lo. Na posição do Chico, a partir dos seus comentarios, tem algo que acho importante, e outra coisa que acredito ser um tanto ingênuo. O argumento do Chico é que assumindo minha posição de intelectual, deveria eu dialogar com esse cara, que se encontra num poço de ignorância, e enfim resgatá-lo de lá. Mostrar a ele como sua opção é equivocada. Obviamente pintei com cores fortes a figura, mas é mais ou menos isso o que o comentário sugeria. O que acho importante nisso é que agindo assim assumimos uma posição mais responsável e menos cínica frente aos problemas da vida, e não nos fechamos numa posição certamente cômoda de relatar o fato para outras pessoas, passando do drama vivido à comédia. Mas acho ingênuo também, porque é acreditar que de fato a razão é boa, e as pessoas que são más, filha da puta ou do capeta, o são porque não pensaram direito. E depois que discutíssemos sobre a ditadura militar, a democracia e os direitos humanos, o sujeito iria mudar suas atitudes e pensamentos. Não acredito nisso. Adotei uma posição ausente, instrumental, de quem observa de fora como se eu não estivesse ali. Isso porque se num primeiro momento estranhei o sujeito dizendo o que ele dizia, num segundo queria saber até onde ele iria. Quando ele falou que “nós militares estamos doidos para voltar”, ou algo assim, não deixei de pensar no que essa frase contém de verdade para os militares (que infelizmente ainda são os que estão com as armas). Pressentia que isso era importante. Como outro dia, numa fila de supermercado, quando ouvi um senhor comentando sarcasticamente sobre um casal que estava na fila rápida ( para no máximo 15 produtos) com muito mais do que isso, “o povo é burro, coitado, não sabe contar até 15, e depois vai eleger um presidente como esse aí...”. Tenho certeza que todo mundo aí já ouviu isso (povo burro elege presidente burro), das filas desse Brasil, aos almoços de família. Gabriel Tarde escreveu há muito tempo atrás: “Politicamente, não são tanto as conversações e discussões parlamentares, e sim as conversações e discussões privadas, que importa considerar. É aí que o poder se elabora, enquanto, nas camaras de deputados e em seus corredores, o poder se desgasta e, frequentemente se avilta. (...) Os cafés, os salões, as lojas, quaisquer locais onde se conversa, são as verdadeiras fábricas do poder.” (Opinião e as massas, Ed. Martins Fontes, p.121).

E me diga você, qual será o poder que estamos fabricando nos shopping centers, blogs e açougues dessa vida, hein?

5 comments:

Rodrigo said...

Duas coisas que eu queria comentar: 1) realmente os militares são uns bostas, mas se é pra alguém ter armas, os militares são os menos escrotos (acho PM e Civil muito piores, e bandidos também não creio que seriam a solução). Por que você escreveu "ainda são os que estão com as armas" - qual a alternativa para o futuro?
2) não acredito que você mudaria esse cara em tão pouco tempo, e dificilmente com mais tempo, posto que ele já é velho. Mas acho que a razão é sim, boa, e existem dois tipos de pessoas más: as más por falta de opção (que não puderam estudar e hoje são esnobadas pelas minas pq não usam nike) e as que cresceram num meio rico, e que ridicularizam a justificativa anterior. Acho que as primeiras seriam "melhoradas" com doses sensatas de razão, mas as segundas precisariam de um choque para enxergar o mundo fora dos seus quintais.

Anonymous said...

Rafael meu caro, saudades do sr. Queria converar sobre esses assuntos e outros ao vivo, mas na impossibilidade dessa opção vou mandar o comentario.
Eu acho que muitas vezes nós (pessoas que tem uma vasta escolaridade formal, especialmente na area de humanas) tendem a subjulgar as opniões das pessoas como o engenheiro militar. É verdade que no meu comentario anterior sobre o tema eu sugeri matar o cara, mas pensando melhor vejo que é preciso ouvir essas pessoas. Não por uma complacencia pedande de quem se julga melhor ou mais habilitado a falar dos temas por ele abordados, mas para entendermos os motivos e as justificativas de alguem que pensa tão diferente de nos mesmos. Afinal de contas não se tratava de algume de uma classe social muito distinta da sua, ou que tivesse uma educação formal muito menor. E isso me intriga e fico feliz que me intrigue, pois como C. Social é importante se aquietar com as opinioes e com as visoes distintas de mundo entre pessoas que tem um historico as vezes não tao diferente dos nossos. Acho que talvez fosse legal que quando nos deparamos com questoes como esta que vc se envolveu a gente desse a nossa opinião. Simplesmente compartilhar nossa opiniao, afinal ele estava expondo a dele. É claro que muitas vezes não seremos bem vindos a dar nossa opiniao, mas ai tb se der problema vc manda tomar no olho do cu, sem perdão, mesmo pq o cara veio disparar esse monte de coisas em vc é seu direito disparar as suas opinioes. Mas o fundamental que quero dizer com isso é que: Opiniões, mesmo as nossas, são opinioes. Elas podem nos ser muito caras, mas se perdermos a capacidade de questiona-las então elas se tornaram dogmas, e talvez num futuro proximo nos façamos o papel (para um jovem psicologo) de um engenheiro militar.

Anonymous said...

eu não sei quanto a você, mas no meu blog eu produzo uma sociedade com mais glamour! =]

tipo amei a citação do tarde! ta viciado?

e aii! chega logo! muita coisa pra gente conversar a toa!

beijocas!

Rafa Pros said...

Fred, gostei do q vc disse, e por isso me inquietei com a historia. Mas é dificil considerar uma opiniao como qualquer outra quando um sujeito acha legitimo arrebentar a cara de uma menina q ta falando bobagem, ou acha um absurdo militares serem presos. Concordo contigo quando diz que nos das ciencias humanas temos dificuldades em ouvir os outros como opiniao tao validas quanto as nossas. Temos um certo apreço pelo nosso conhecimento da argumentação, como se ja soubessemos tudo que o outro pudesse falar numa relação. E vao encontrar sim com cerveja.

Beibe, o tarde é foda. é tipo meu autor quase (mas nao) marginal de gaveta preferido. é uma pena q ele esteja cada vez mais popular...hehe

Prós said...

Bom, muito fácil a saída pela esquerda de "estou observando". Acho que é bem por aí e concordo com o Tarde: é justamente o que falamos no dia a dia e as opiniões que professamos que importam, mais do que se fala lá na câmara dos deputados. Todos nós influenciamos pessoas e é bom que sejamos boa influência, ao menos num sentido humanitário -- que é justamente o que chamo de bom. Resumindo, acho que temos que tomar atitudes ativas de educar e conversar com a galera sobre temas de importância canônica na sociedade atual, como igualitarismo, pacifismo, ambientalismo e etc. Só assim transformaremos essa merda confusa num mundo no qual teremos orgulho de viver. Dá-lhe Tarde.

Principalmente no Brasil com as super-populações das cidades, os cidadãos acham que não influenciam a sociedade se fizerem merda. Daí todo mundo faz merda. Mas se cada um tivesse o senso de responsabilidade tardiano, o mundo seria melhor. Sei lá, de repente tô viajando.

É claro também que qualquer um pode falar o que quiser e defenderei a liberdade do militar de falar qualquer merda que eu discorde, mesmo que ele não tenha o mesmo apreço por mim e queira me calar quando eu soltar alguma bagaça igualitária de esquerda.

Estou tecendo novas teorias sobre esquerda e direita ultimamente, procurando padrões comuns nos pensamentos de uns e de outros. Já tenho certo material em minha massa cinzenta. Qualquer dia sai um texto.

[]s!