Friday, December 12, 2008

Partiu...

E não me disse nada,
já ia distanciada
quando ela parou e me acenou com a mão,

desapareceu...(Cartola)

Fui...

Olha só , este blog morre aqui.
Agradeço as comentários, alguns do coração, outros do fígado e alguns das canelas.
Todos belos e necessário, uns mais e outros menos.

Ainda que para mim haverá sempre algo de masturbatório e frustrante em demasia em qualquer idéia de blog, fui feliz com esse aqui. Começamos com ilusões literárias, e terminamos como imã de geladeira, um pouco de tudo.
Nos primórdios começava um texto, assim: "Ontem fui.." (sim, eu costumava ir..). Mas não achava o texto bom, e aí deixava na gaveta de cima do meu hardisk. Quando achava bom, o texto começava assim "Numa noite de 2001 fui...". Com o tempo passei a me puliciar menos, e infelizmente, escrevendo menos também.
Matar as coisas as vezes é bom. Faz bem.

Mudar também faz bem.
Por isso me mudei para um bar.

Tuesday, November 25, 2008

Curta: "Mate o Cineasta!"

Hoje tive uma idéia brilhante de um curta metragem. Comecei a escrever e como não vou levar pra frente mesmo, resolvi comentar aqui, porque a idéia é boa pra cacete.

Tive a idéia enquanto escrevia palavras raivosas num caderninho durante uma discussão surreal.
A verdade é que empolguei porque tive uma idéia bem completa da parada, da sonoplastia ao figurino, passando pelo roteiro.

A idéia é uma sala de aula, discussão medíocre, tipo a aula no Tropa de Elite, com muitos foucaults e deleuzes jogados ao vento. Daí um aluno tenta falar e nao consegue, é sempre interrompido. O tema era um documentario que seria discutido com os diretores. Mas no meio da discussão, a professora e uma aluna começam a duelar num jogo de ping-pong discutindo uma questão que não tinha nada a ver com nada. Sei que termina com Jesus Cristo dando ordem pra bombardiar a PUC.
Referencia as melhores tirinhas e cena de guerra (ainda que pesadona) de todos os tempos.

E viva o Google...e morre o blog...

Sei que não sou o único a idolatrar o google e a matar meu blog, às 21:39 no horário de Brasília. Ainda que seja um morte matada lentamente, com toques de crueldade, e com substituto pronto, acenando pro bandeira ja querendo entrar em campo.

O Novo blog vai se chamar: Dique Fuiporai. O disque é só uma palhaçadinha, pra não ficar muito claro que fico roubando titulo de blog de música da mpb.

Mas a idéia é voltar um pouco no que este blog era no início. Quer dizer isso e também não. Esse blog tinha uma pretensão estético-lirico-volitiva. O próximo vai ser algo mais próximo da idéia de refletir sobre andanças no tempo-espaço. Bebedeiras, papo, amizade.
Bom, mas pá, aí fui procurar uma imagem pra brincar com a idéia, que era de colocar um telefone e talvez colocar as letras "fuiporai. Mas jogando a coisa na busca de imagens do google, achei isso aqui:
Tipo:
- Ô seu gugugle, sai da minha cabeça por favor!

Monday, November 17, 2008

Me(n)st(u)rado!

Nossa me deu um bode hoje do cacete com relação ao mestrado.
Sei lá, nós psicologos sociais temos uma tendencia, que não é só nossa, de encarar a vida academica, e a produção de dissertação e tese de forma bem existencial. A cada linha queremos vislumbrar um horizonte do nosso ser. Da nossa história.
Eu não sei bem o que quero com esse mestrado.

E ao contrário de alguns programas nos quais voce se mata em 10 disciplinas, para nós, a carga de disciplinas é bem menor, sobrando muito tempo para angustia da produção e da escrita.
E ainda mais eu, que tenho uma adoração neurótica por colecionar textos lidos, autores citados, e referencias em geral vazias. Ainda que repita bastante, e me busque nessas repetições. Sinto as vezes um esvaziamento, como se procurando determinada referencia me eximisse da expressão.

Lá em Morada Nova de Minas, eu e Julia vimos uma diretora de uma escola na zona rural fazer barbaridades com os alunos. E pensei em que situações a psicanálise pode ser política, social, ou mesmo educacional. E ali vendo aquela mulher fazer atrocidades na escola, ficou evidente que uma boa intervenção particular poderia ter repercussão na vida de toda escola. Agora é mais ou menos o mesmo. Pedirei ao cnpq recursos para melhorar meu trabalho academico.

Seria a bolsa Freud.

Monday, October 20, 2008

da série novos ditados...

Em tempos de rato, barata é boa notícia.

Saturday, October 18, 2008

Peito Vazio

Fiquei devendo a letra de Peito Vazio, ai vai:

Peito Vazio

Cartola

Composição: Cartola e Elton Medeiros

Nada consigo fazer
Quando a saudade aperta
Foge-me a inspiração
Sinto a alma deserta
Um vazio se faz em meu peito
E de fato eu sinto
Em meu peito um vazio
Me faltando as tuas carícias
As noites são longas
E eu sinto mais frio.
Procuro afogar no álcool
A tua lembrança
Mas noto que é ridícula
A minha vingança
Vou seguir os conselhos
De amigos
E garanto que não beberei
Nunca mais
E com o tempo
Essa imensa saudade que sinto
Se esvai


Friday, October 17, 2008

Volto pra Casa

É madrugada. Agora já é sábado, 18 de outubro, há tres horas e quarenta e cinco minutos. Acabei de chegar de uma salsa na Lapa. Foi interessante, reforçou em mim aquela estranheza chata de não sermos latino-americanos. Como nos ver naquelas pessoas com cara de índio. Acredito, felizmente que isso seja momentaneo, mas ainda me vejo com cara de caubói. Com todo o trabalho da fafich. Não digo essas coisas com ironia ou sarcasmo e sim com vergonha. Brasileiro tem uma relação fodida com o latino americano. com o indio.
Aqui sentado, esforço-me pra escrever mais e quem dera, melhor. A verdade é que pensei que escreveria melhor quando chegasse aqui, no rio. Como repetia atos de Braga, Sabino, Mendes Campos e etc, achava que as almas imortais desses mineiros-cariocas baixariam aleatoriamente em mim por passar pela baía de Guanabara olhando, ora pra esquerda, ora pra direita. A verdade é que ninguém veio. Fiquei sozinho. E o rio de guanabara, do pão de açucar se mostrou mais o rio dos mendigos, das crianças de rua. Dos pedintes sempre calmos ainda que na extrema necessidade. Não dá pra fazer poesia disso. Nunca tive tesão por filme de Zumbi, mas nos ultimos anos tenho achado muito interessante. Não precisa fazer mestrado pra pensar que os moradores de rua são os zumbis dessa cidade. Só falta ensiná-los a nos comer. Rastejam por aí, sujos matrapilhos, olhando pra baixo, fedendo. Dormem de dia, reviram os sacos a noite. Mas ainda não nos comem.

Thursday, October 16, 2008

Ainda sobre Elton... (na verdade talvez só fale disso para sempre)

Havia uma esperança de que no ato de ver Elton Medeiros (mais do que Herminio) encontrasse eu aquelas coisas da vida cheias de significado, cheias de cheio, das quais a gente fala com emoção, com saliva, com palavra adiantada na empolgação, pra sempre. Aquelas coisas da descoberta real, dos vinculos, das veias, entre pensamento e vida que nos atinge, e que me atingia mais há algum tempo, mas que depois vai se esvaindo... Num livro sobre o John Lennon, na verdade é uma imensa entrevista com ele, já na sua fase pós-beatles, ele conta como conheceu Yoko Ono. Ela, artista plástica, estava apresentando seus trabalhos numa galeria, e um deles era uma escada que subia até o teto, e lá havia um quadro com um olho mágico e ao olhar ele viu escrito em letras pequenas: "sim". Eu que como todo mundo normal, sempre odiei a Yoko, passei a respeitá-la um pouquinho depois disso. E com toda a preguiça particular e fundamental para com a senhora, ou melhor, senhorita arte contemporânea achei bonito, simples e fundamental, seguir um caminho sem volta, e ver ao final escrito sim, como numa escolha feliz.
Elton Medeiros é dessas figuras bonitas do samba, bonito, com estilo, uma voz fodida de boa. É sem dúvida dos grandes. Todo o momento, o entorno da palestra-espetáculo merecia na verdade um conto, ou um curta. Numa sala velha, bonita, clássica, mas decrépita com aquele cheiro aurático de abandono, 50 ou 60 pessoas, a média de idade na casa dos 70 anos. Era reunião do Instituto Histórico e Geográfico do Rio de Janeiro, uma reunião que pelo que entendi acontece todo mês, e nessa ocasião a propósito do centenário de nascimento de Cartola, convidaram os dois artistas para cantarem e contarem a vida do homem. Confesso que foi bom saber da realização desse evento já no dia, de outra forma, possivelmente não dormiria na noite anterior. Eu que nunca tive um bichindo de pelúcia, um brinquedo preferido, ou um bonequinho dos comandos em ação favorito, via na figura do Elton, mais do que na voz, na figura mesmo, no acontecimento da criatura, uma das coisas mais bonitas do meu samba. Procurava por Shows seus na internet e no jornal toda semana e nada encontrava.
O clima era ainda que formal, bem ameno, todos muito próximos, ele andando de um lado pro outro, o Herminio com cara de dono de programa de auditório sentado na frente. E o evento começou com aquelas formalidades institucionais que depois de um tempo ninguem entende, nem quem as protagoniza. Nesse Instituto Georgráfico de bla bla, a formalidade consiste em ler as noticias referentes a essa data, da reunião, no caso 10 de outubro, na história do Brasil. Tipo Dom Pedro II inaugura ferrovia, nasce Casimiro de Abreu, o carro de presidente Washington Luis quebra na praia de Copacabana, etc... Uma senhora, ou o próprio bastião da tradição, conduz tudo, com aquela frieza necessária a tradição, que deixa claro ser impossível conduzir as coisas de outro jeito, ao mesmo tempo que não se esforça nem um pouco para parecer mais do que agradável. Depois disso ela convocou os dois artistas que passaram a conduzir o boteco, digo, o evento.
O Herminio logo tomou a palavra e se portou ali comandando geral. Começou com um samba-enredo do próprio com o Paulinho da viola sobre Cartola que foi tocado no som. A cara de Elton já ali começou a se mostrar. Enquanto tocava a música ele reclamava com o Hermínio sobre o tamanho do samba, que tava monotono, o que procedia.
A idéia era simples contar a história do Cartola, dos entrecruzamento entre os dois e o mestre, e a medida disso cantar suas principais musicas. A Elton foi passada a bola e lá ele começou a narrar quando conheceu Cartola etc. Bom, não vou narrar isso aqui não senão fica chato pra cacete. Sei que fiquei ainda mais fã do Elton depois disso. O sujeito tem uma alma dessas que transmite plenitude, domínio do tempo e do espaço. Fanfarronou bastante, cantando meio com preguiça algumas músicas. Mas quando emendou "Acontece" e "Peito Vazio", essa última, uma parceria dele com Cartola, o auditório veio abaixo. A velharada e nós cinco com menos de 40 anos batemos palma exaltados. Eu ensaiei um choro, que foi devidamente contido. Foi das coisas mais bonitas que já vi. Um homem cantando com tanta paixão. É bom ver paixão nas pessoas que fazem coisas né? Falando em paixão...

Durante a apresentação, o Herminio abria para as pessoas fazerem perguntas, o que aprendemos com a Julia que não dá certo. Eu sei que a mulher nada queria perguntar, ela só queria informar que o Cartola tinha feito "O mundo é um Moinho" para sua filha que havia se tornado uma prostituta, etc. Mas a dona, começou falando assim: "Porque eu ouvi dizer que a musica o mundo é um moinho, o cartola havia feito para uma flha dele, que assim, não casou né...". Os dois falaram que não sabia de nada disso etal, e bola pra frente. No entanto, a senhora pediu a palavra de novo, e de novo..mais umas tres vezes e na sequencia, disse mais ou menos assim. Que a filha tinha seguido um caminho diferente na vida, que a filha tinha saido de casa e ido morar na rua, que a filha havia se tornado uma mulher da vida fácil. Eu prontamente me lembrei de quando trabalhei com idosos num asilo privado. É interessante como pudor e exposição, caminham juntos. A senhora queria falar que a filha é uma prostituta, mas vinha pelas beiradas até chegar aonde queria. Como dona Ives, lá de morada nova de minas, quando queria falar algo que poderia soar preconceituoso, ou que poderia incomodar, dizia antes "é comosssediz..". Por exemplo, se determinado sujeito fosse homossexual, ela dizia. "Geraldinho ,é, como se diz, meio efeminado né...".
Tudo terminou. Na saída ainda perguntei ao Elton se ele cantava em algum canto da cidade. Ele disse que tem tocado em São Paulo, em Curitiba, mas aqui no Rio não... O que como diz o Tiaguinho merece umas duas teses. Já que essa cidade fica dando uma de samba em toda esquina...
Ao vê-lo cantando tão belamente os versos aqui debaixo, esse acontecimento tão singular trouxe caminhos, e principalmente portas fechadas escondendo sims para minha vida. Resta abrir...

Thursday, October 09, 2008

Elton Medeiros e Hermínio Bello de Carvalho



Acabei de chegar de um evento em homenagem ao Cartola, com o Elton Medeiros e o Herminio Bello de Carvalho. Dizer que foi uma coisa linda não vale. To pensando aqui o que posso falar então. Sei que foi bem interessante, em todos os sentidos. Ai vai uma provinha...
1. Pressentimento - Elton e Alcione

2 Rosa de Ouro - Paulinho da Viola, Elton, Anescarzinho, Nelson Sargento...

Monday, October 06, 2008

Um Homem ou um Rato

Tenho um rato perambulando pelas madrugadas de minha casa. Entrando e saindo de buracos que nem mesmo conheço. Mesmo desarmado, é (tal qual o Remo) muito perigoso.A verdade é que tenho bastante medo desse rato. Ainda que seja um camundongo na verdade. Um camundongo é bem melhor do que um rato. Embora isso não signifique muita coisa. É como dizer que morrer duas mil vezes é pior do que morrer setecentas. Não deixa de ser verdade.
Já faz duas semanas que convivemos com o bicho. Percebe que vou conjugando no singular, aquele da esperança. Sinto um pavor inominável dos ratos. Tem aquela cena, realmente pavororosa, do 1984, que é tipo a pior coisa que se pode imaginar (ou a segunda pior). Fico imaginando o momento que verei o bichano se esgueirar pelas minhas quinas. Vergonha própria desse nojinho todo de um bicho desses. Mas fazer o quê se as minhas peles burguesas estão a gritar.
Moral: Se sou um homem ou um rato? Provavelmente um rato para um homem e um homem para um rato (não é a toa que nós ainda não nos conhecemos)

Wednesday, September 10, 2008

"Agoniza, mas não morre..."

Chicão, essas palavras sábias são..
"o samba agoniza mas não morre".. talvez esteja este blog agonizando mais uma vez, e performatizo aqui tal qual dama abandonada, ou adolescente espinhenta e mal-amada, que dá seus suspiros em bom tom, e diz, toda grave, que vai se matar. E logo toma 30 aspirinas, vai dormir pra acordar com uma dor de cabeça que só não é maior que a vergonha...

Lindas as suas palavras meu caro. Saudade das nossas cervejas e nossos sambas. Amanhã vou a BH e pretendo comemorar meu aniversário nos braços do samba daquela nossa Opção de louras umas geladas, outras nem tanto, e morenas das quais não precisemos falar da temperatura, nem da pressão. Foi bom você ter ligado aquele dia, faça mais isso, por favor.

Há uma força que tem me deixado chato e monótonico. Aí não dá pra escrever nada. Pra ser mais específico é uma inhaca. Encôsto, ou algo que o valha. E a vida continua dando material. Outro dia mesmo, vendo você lembrar do Caymmi, estivemos eu e Gabi de chinelo, camisa suja, e short de pijama a chegar na porta do cemitério São João Batista e acompanhar o final do cortejo. Foi bonito e triste. Lembrei do Show que fui em Bh com o Dori Caymmi e o Paulo César Pinheiro. No dia o Dorival tinha sido internado. Lá pelo meio do Show, num palco pequeno, sem graça o Dori pediu para que juntos rezássemos pelo seu pai. E juntos todos cantamos "Minha Jangada Vai Sair pro mar/ Vou Trabalhar, Meu bem querer"... E mesmo eu, um materialista cartesiano convicto acabei sentindo uma energia boa circular pelos meus chacras.

Bom, não prometo mas tentarei continuar por aqui entre essas idas e vindas. Beibe, algumas certezas são fundamentais para a gente continuar (talvez esteja aí a força da fé), e continuo apostando todas as fichas de todas as mesas em algumas amizades. Umas poucas, que fique claro. Mas as vezes a gente precisa de uma sacudida mesma pra deixar essa poeira pra lá, esse ranços, essa preguiça. E seguir, andar...

Sunday, August 24, 2008

E tenho dito! III


Acho que essa é a única série que se conjuga no plural de todas que já tentei. Não sou só eu que quero canonizar o Jece Valadão...

Thursday, August 21, 2008

Requentando I

Acho que esse blog caminha a passos seguros para a sua cova. Ele não faz muito sentido mais para mim. Não tenho vontade de escrever, ainda que a vida continue assim, provocando tanto. De qualquer forma o blog mudou muito nos últimos tempos. No início ele era um depósito dos meus textos, principalmente, crônicas assim como uma explicitação das referências importantes para minha constituição estílica-moral. A maioria das postagens consistiam em textos tristes, melancólicos, num estilo bem rubem braga de manual. Mas gostava muito dessa produção. E daquela vida, ainda que muito juvenil, ou talvez por isso. Hoje ele tem uma marca das questões críticas dessa nossa vida à brasileira. Além disso, ele se tornou mais iconico, com figuras e links. Mais despretensioso num certo sentido. Talvez valesse a pena dividi-lo, esquartejá-lo, talvez não.
Queria retomar esses textos mais trabalhados, pensados, sentidos mas sei lá, a vida tem sempre a razão...talvez sejam tempos de enterrar essas coisas. E quem sabe o que poderá surgir dos restos desse cadáver. E mesmo os vermes ,serão todos bem-vindos.
"Vai...porque que a tua missão é de paz, ser poeta é difícil demais/ Pra que querer que um coração normal/ um dia vá te compreender... " (ouço essa música quando escrevo esse texto..)

Esse blog morre como nasceu, sem querer. Morre na esperança sincera de que algumas dessas palavras fizeram alguma pessoa muito feliz. E disso tenho certeza inabalável. Porque sei que alguém que ficou muito feliz com alguma dessas palavras que foi eu mesmo. Além, é claro de outras pessoas. No decorrer dos anos tive gratas supresas em alguns comentários, mas uma em especial, anônima, foi a mais deliciosa. O comentário anônimo, ao contrário do que se pode pensar, não é comentário de uma pessoa sem rosto, mas o comentário de muitas pessoas, que revestem um pouco dessa máscara do anonimato. Dão guarida e deixam correr os desejos. Tenho descuidado da minha poesia. Devia ter cuidado dela como cuido dos meus dentes.
Aqui vai um texto bem despretensioso que fiz junto com o Chico, meu primo, este que foi uma referência recorrente nos meus escritos (Inclusive foi ele quem criou o blog para mim). O texto simulava uma conversa entre Vinicius de Moraes e Rubem Braga.

Tuesday, January 03, 2006

Dois amigos conversam...

Chico e Rafa Prós
Era mais um Natal, outro desses que passam ano após ano sem a nossa consulta, mas aquele foi um pouco diferente. Deixamos as crianças, as mulheres – todas elas – e também a suposta alegria típica deste dia fora de nossa sala, nosso mundo e vida. Ficamos só nós dois, ali na varanda. Havia também o Atlântico. Como era importante o Atlântico. Se havia fartura, era só de cerveja e tristeza, acompanhadas de um ou outro tira-gosto. Ambos com 56 anos, nesse desolado ano de 1969, ano que o homem chegou à lua, a mesma que agora ilumina o mar e a praia de uma forma tão sutil. Eu, só um pouco mais velho que ele em rotações astrais, mas tão “envilecido” que na nossa conversa sentia-me como um avô frente a um rapaz inquieto e apaixonado pela vida; vida essa, a dele, que progride esvaindo-se em uísque e mulheres, ainda não sei bem se mais do primeiro ou do segundo. É bem sabido, inclusive, que são exatamente essas – e que fique bem claro que me refiro aqui às mulheres, não ao santo uísque – as coisas que mais acabam com a vida de um homem, mas também apenas aquilo que nos permite abençoar e cobrir com um véu de beleza a nossa Vida, que surgiu mesmo para um dia chegar se acabar. Ao contrário da minha – agora vida, não mulher – que se vai em tédio e jantar requentado do almoço. Ele poeta, boêmio e apaixonado, cada vez mais e sempre por várias mulheres, uma de cada vez, no tempo do “enquanto dure”. Mas ficava apaixonado mesmo, eu diria ser ele o mais honesto dos homens com seu amor. Às vezes olho pro sujeito e penso, “Ou é o maior apaixonado do mundo ou o maior dos enganadores, e engana até a si mesmo”, pois se nem nas minhas próprias paixões, moldadas manualmente com todo romantismo de uma pequena escola de Cachoeiro do Itapemirim, acredito piamente... Principalmente depois que elas passam, fico invariavelmente sem saber se suas intensidades foram mesmo reais e fiéis, verdade mesmo é que elas sempre passam e aí ficam tão pouco.
No Natal combinamos de trocar toda festividade pela varanda, pela cerveja e pela conversa despretensiosa, não necessariamente nesta ordem. As crianças, que já nem eram tão crianças assim, que se virassem! Assim como as mulheres ou pelo menos a dele que durava naquele instante, já que a minha, enquanto um ser pelo qual devemos nos juntar em festividade familiares, jamais se encontrou na lista de convidados de minha vida. Já percebi que meus anseios amorosos são por paixões rasteiras com quarto e sala a alguns quilômetros do meu apartamento. Pensamos em passar este Natal bêbados e melancólicos de verdade, e não como de costume, empanturrados e razoavelmente alcoolizados, tontos daquela forma mediana que ainda preserva a consciência dura de nossa tristeza. Brindamos as cervejas, já que fazia uma noite quente no Rio de Janeiro e aqui nos trópicos prefiro a gelada cevada ao formal scotch.
A conversa não poderia descambar pra outra coisa que não fossem as mulheres. Não essas nossas, mas todas as outras, uma forma idealizada deste ser. Ele, um amador inconfundível e declarado, e eu que me dizem sisudo e bravo, mas sem dúvida ambos apaixonados por elas: lindos, fugidios e mágicos seres. Para ele as mulheres eram como anjos e deviam tudo, toda a energia da vida e de sua beleza, para a devoção ao amor e ao homem. Assim, todas deviam ter essa frágil força de se fazer qualquer coisa por um grande amor, esse tipo de força que aguarda e chora em silêncio pelo seu objeto de desejo. Eu nunca concordaria com ele e então contra-ataquei: “As mulheres, pelo menos aquelas a quem amamos, devem tornar possível a visão de si mesmas como uma faca a espreitar-nos e com uma real possibilidade de cravarem-se quando menos esperemos em nossas costas. Uma mulher que nunca fará uma coisa dessas não me vale um ‘Oi’”, “Você não entende mesmo de mulheres, preste atenção, a mulher é puro amor, é sentimento, é paixão... e se hoje elas se fazem de racionais, objetivas, isso é só o que nós fizemos com elas, nós homens e essa sociedade pseudo-igualitária. Temos mais é que tentarmos reaver essas mulheres belas e fortes, mas fortes na arte de viver só sentimento”, “Mulheres que sejam só sentimento, poeta, entediam horrores. Gosto de encará-las com um medo indizível desse pronome possessivo, de forma a semear nela um receio de que ela de fato não seja minha, de forma que sabia que antes de tudo eu é que sou meu, nunca dela. Não confio a pessoa alguma a coisa que me é mais cara, minha própria vida, e penso que te machucas muito ao fazê-lo. As mulheres que mais apaixonei foram essas que me abandonaram, não como quem rompe comigo, mas como quem se reavê enquanto criatura”, “Que criatura? E para que serviria a mulher se não fosse o amor, única possibilidade real de vida, de liberdade”.
Ficamos um pouco em silêncio, jamais conseguiria convencê-lo disso ou daquilo e nem ele a mim. Tomamos mais uma cerveja e ele então passou para o uísque e para o violão. Naquele dia compusemos uma música que na manhã seguinte decidimos como melhor por embolarmos o papel e jogarmos à iemanjá, não deveria existir nesse mundo nada tão melancólico assim. Mas ainda me lembro da melodia...
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Tuesday, July 15, 2008

Enfrentando o fascismo nosso de cada dia - Reforço

Achei fantástica essa passagem curta (e grossa) de um site muito interessante que acompanho há algum tempo.





Enfrentamento: desmandos a mando
Observações sobre a comoção & gritaria suscitadas por policiais matarem uma criança na Tijuca, enchendo um carro de bala sem pararem pra pensar quem estava dentro
1. essa história de dizer que os soldados eram “despreparados”(ou para alivar o lado deles ou como crítica à formação policial atual)eu escreveria que, ao contrário, eles estavam “preparados”. A preparação de policiais, a formação que recebem, a informação que lhe passam, é essa de sair atirando mesmo, passar o rodo. É o comando que comanda política do enfrentamento. (ir)Responsáveis também são os comandantes.
2. agita-se muito agora na imprensa e entre cidadãos indignados sobre ações recentes de agentes da “lei” que assassinam inocentes, inclusive criançascomo se a violencia estivesse espiralando e as polícias girando fora de controle(o que realmente está e estão)mas há muito muito tempo policiais e soldados entram-sobem-chegam atirando – e matando gente que nada tem a ver com seus possíveis alvos, inclusive crianças.a notoriedade adquirida pelos absurdos chocantes recentes vem porque acertam pessoas mais de classe média. execuções & assassinatos em favelas ou bairros de periferia são comuns. polícia mata. à toa. a política de enfrentamento de cabral & beltrame & quem mais mais aproveita para dar vazão às suas sanhas apenas (e que apenas, hein) exacerba uma visão existente.
3. a turba que ululava de prazer com capitão nascimento e sua tropa de elite agora quer se chocar com os desmandos, é?não sao duas faces, é a mesma moeda, a coisa tem seu preço.vão agora gritar Caveira lá no enterro do menino João Roberto!!

Tuesday, July 01, 2008

E Tenho Dito! II

Uma semana após o artigo do senador Marcelo Crivella ter sido publico no jornal O Globo, o mesmo jornal publicou a seguinte crítica:

OÃO XIMENES BRAGA - Sai do armário, bispo!

O senador e pré-candidato a prefeito Marcelo Crivella se apresenta como bispo licenciado da Igreja Universal do Reino de Deus e é comum ser chamado de "ex-bispo" na imprensa.
A situação é tão hipócrita quanto a de um homossexual enrustido que se casa com uma mulher e freqüenta saunas gays, acreditando que assim tem o melhor de dois mundos: satisfaz tanto sua natureza quanto a sociedade. Na verdade, porém, vive em negação e não percebe o próprio ridículo.
Todos sabemos que o candidato está numa sinuca de bico. Apesar de liderar as pesquisas e ter o apoio de Lula, ele tem a tarefa quixotesca de reverter o índice de rejeição que sofre por sua ligação com o bispo Macedo. Para piorar, agora se vê às voltas com essa tragédia do Morro da Providência.
Claro que ninguém é maluco de responsabilizálo diretamente pela atitude dos criminosos que venderam três rapazes a outros criminosos. Acontece que essa tragédia inominável chamou a atenção para o caráter "ambíguo" - sejamos gentis - do projeto Cimento Social. O artigo de Crivella publicado sábado neste jornal era o espaço ideal para dissipar essa "ambigüidade". Por que diabos o custo da reforma de cada casa é de R$ 22 mil? A seleção dos contemplados realmente foi feita pelos pastores da Igreja Universal do Reino de Deus? E por que diabos o Exército está de guarda-costas de empreiteiros quando o próprio Lula já repetiu inúmeras vezes que a instituição não lida com segurança pública? Então o pobre leitor abre o jornal e vai ao artigo de Crivella esperando esclarecimentos de um senador da República e candidato a um cargo administrativo. E o que lê? "Meu Deus, pergunto, até quando? (…) Até quando o ódio e o crime irão lançar nossos jovens, uns ensangüentados, na sepultura, outros com armas na mão, no inferno das celas para serem barbarizados e vegetarem anos a fio numa obscura e triste existência?" Em vez de dar respostas, Crivella fez perguntas a Deus. Pirotecnia verbal, pois Deus, como se sabe, não costuma dar réplica nos jornais, muito menos afirmar Seu apoio a candidatos.
Em vez de dar explicações racionais que pudessem livrar o Cimento Social das acusações de projeto eleitoreiro com dinheiro público, Crivella fez uma defesa da fé - "Creio na corrente dos homens de bem" e blá, blá, blá - usando o vocabulário e o tom dramáticos que são padrão dos bispos midiáticos da IURD.
Crivella pode preferir ser apresentado da forma que quiser, mas não consegue fugir da sua natureza. É um bispo da IURD. Cabe a cada eleitor decidir se quer ou não votar num bispo da IURD, mas o senador precisa sair do armário e deixar claro para todos que pensa, age e legisla como bispo, sob o risco de parecer ridículo, na melhor das hipóteses, ou hipócrita, na pior.
JOÃO XIMENES BRAGA é escritor.


Interessante que o senado tem uma página que coloca as principais notícias sobre os senadores. E parece ser bem amplo, não contendo apenas aquilo que os senadores gostariam que fosse colocado, por exemplo.

Friday, June 27, 2008

Queria escrever sobre o samba...

Mas não vou, fica pra depois. O samba já me acompanha há tanto tempo, e tenho uma certeza tão “certeira” e bonita de que continuaremos juntos, para sempre, que ele (melhor seria se fosse ela) pode esperar. Para não dizer que não falei dos meus sonhos devaneios a caminho da aula, digo apenas que me bateu uma saudade boa dos ventos de Belorizonte-Cartola, Reciclo, e principalmente, Opção... saudade do Chico e da sexta-feira, e desse samba mais angustiado que se faz nas minhas gerais.


No entanto, o acontecimento dos três jovens do morro da Providência entregues por 11 militares a traficantes de outro morro para serem torturados e mortos, fecharam o tom de nostalgia musical. Fiquei realmente tocado com o fato. Felizmente (ainda) não fui o único. Se é preciso, ou pelo menos se quero, ter algum alento num caso como esse, que seja a minha surpresa com o barulho que se tem feito e a relevância que se tem dado a tudo isso (por mais que ainda ache tímido frente ao que ocorreu).


Acompanhei o caso pela televisão a partir da noite do enterro dos meninos que, por acaso, ocorreu há um quarteirão de minha casa, no cemitério São João Batista. Vi a força daquelas pessoas que seguiram do enterro para a rua, a revolta muito concreta encarnada nos rostos parados na frente do palácio de Duque de Caxias, comando do exército responsável pelas atividades no morro da Providência. A primeira coisa que pensei é que devíamos todos ir para a rua e botar pra quebrar. Como a Julia diz, tem coisas e tem hora que não dá pra sentar e conversar, aceitar, a “paz” que não se pode querer. Quebremos tudo agora e depois conversamos. Mas não fui, claro que não. Fiquei pensando. Pra isso me paga a Capes, na verdade o Cnpq.


Quem acompanhou a narrativa de minha intrépida viagem ao lado de um certo engenheiro militar, talvez tenha sacado que ali estava descrita determinada posição autoritária, na figura do oficial que tem poder, o que fica bastante explicito quando ele disse que achava um completo absurdo um oficial ser preso. Ora, como assim? A partir desse evento passei a observar e pensar mais no problema do exército. Problema real, institucional, subjetivo e histórico. Mas confesso que me surpreendi com o que é mais absurdo nisso tudo*, o exército, na figura de um tenente e de seus subordinados (nada menos do que 11 indivíduos) ter entrado numa boca de fumo (pelo que li com os braços para cima), dialogado e entregado, ao fim, os três jovens para um grupo de traficantes. Ora, isso indica uma relação estreita entre um oficial (isso para os militares faz toda a diferença, ainda que de baixa patente) e um grupo de traficantes, a ponto desse militar ter a tranqüilidade de entrar com outros 10 numa favela a cata de certo traficante (não poderia de forma alguma ser qualquer um). Confesso que fora ingenuidade minha se assustar com isso. Por mais que o exército nunca tenha me inspirado a mínima confiança ou simpatia, acreditava que ele se mantinha mais ou menos fora das relações cotidianas, ainda mais as contraventivas. Afinal o exército é aquela coisa meio pra proteger fronteira, meio pra defender em caso de guerra contra outros países, e meio para auxiliar na infra-estrutura de um golpe de estado. Ou seja tudo meio fora do cotidiano das metrópoles. Nos esquecemos, no entanto, que o exército é feito de sujeitos que vivem também nas cidades, além de ser onde está toda a sua estrutura e comando. O que coloca a questão do grau de envolvimento do exército como instituição, com o tráfico de drogas, também como instituição. Ok, é claro que agora vai ficar bem provadinho que este foi um caso isolado, específico a esse tenentinho, que tinha outros problemas na sua ficha e blábláblá. Os culpados de sempre. Acho difícil acreditar que seja um caso isolado. Mas não vou entrar muito nisso tudo, porque acredito que muita gente boa já falou disso, e eu também já disse mais do que queria, a princípio...


Mas uma coisa que não vi muita repercussão, e que merece toda atenção do mundo, já que é algo da ordem do que podemos fazer, consiste em pensarmos quais tipos de discursos se apropriam dessa tragédia, e de que forma tais discursos constroem certas ficções sobre a realidade social. Não tenho problema nenhum com ficções sobre a realidade social, meu problema é com o “certas”. Por isso o artigo de opinião escrito pelo excelentíssimo senador da república, Marcelo Crivella, para o jornal O Globo do dia 21 de junho, mostra-se bem adequado à tal proposta. Muito porque o supracitado senador é autor do projeto “Cimento Social” que foi a superfície por onde toda a tragédia se desenrolou. Além disso o senador também é pré-candidato à prefeitura do Rio de Janeiro. No desenrolar dos acontecimentos e das investigações, ficou bem claro o caráter eleitoreiro das obras, o que gerou inclusive a sua interrupção. Para quem não sabe, o projeto Cimento Social visa recuperar um conjunto de casas no morro da providência através de uma articulação entre o ministério das cidades e o exército, que teria a função de garantir a segurança e realização das obras. Ainda nas investigações surgiram documentos mostrando a participação de acessores do senador na articulação para a realização das obras.


O artigo se chama: “Morro da Providência. Eu creio”. A primeira frase já diz muito: “Mais uma vez a crise social que amarguramos nos impõe a perplexidade, a vergonha e a dor.” Ou seja, o que ocorreu é resultado de uma certa “crise social” e nada tem a ver com questões concretas e muito específicas. Como se tratasse de uma guerra de gangues ou algo do gênero. Ora, ainda no quesito “causas possíveis” continua o excelentíssimo: “É que a fatalidade de um quotidiano de violência, marginalização, injustiça e pobreza estraçalha as consciências”. É impressionante como não aparecem nomes, situações, mas sim, fatalidade, crise social, jovens, irmãos. Eu queria não citar tanto o texto, mas é difícil, porque mais do que um termo aqui ou ali, ele tem um ritmo, meio poético, épico, que precisa ser exposto na sua totalidade, no seu conjunto. Tal estilo do senador, ao meu ver, recai tanto num desdém com os sentimentos e a inteligência alheia, como em puro cinismo, de quem não teve nada a ver com isso .


“No ambiente de conflito e de revolta que produz, lança, em fúria insana e indomável, irmãos contra irmãos, jovens contra jovens, pobres contra pobres, derramando sangue, destruindo a esperança e tornando a vida de nós todos na mais inútil, deplorável e miserável tragédia.”


“Meu Deus, pergunto, até quando? Até quando nossos sonhos, que sonhamos na inconformidade, na revolta contra a realidade que nos assola e massacra, até quando se tornarão em tristeza, frustração e pesadelo? Até quando o ódio e o crime irão lançar nossos jovens, uns ensangüentados, na sepultura, outros com armas na mão, no inferno das celas, para serem barbarizados e vegetarem anos a fio numa obscura e triste existência?”


Fica evidente que nada é possível ser feito, não há nenhuma manifestação humana num espaço cercado de fatalidade e questionamento divino. Uma escrita pomposa, que traz a tona a distância e um apego as fórmulas baratas e fáceis de (tentar) emocionar. Mas no meio desse drama farsesco e verborrágico, há algo bastante pragmático:


“Desde que assumi o mandato, duas coisas me preocuparam mais e estão ligadas diretamente a essa violência sem precedentes e crescente, que atormenta nossas vidas: o tráfico de drogas e a deplorável condição de moradia nas comunidades carentes. Com esse objetivo aprovei alterações em duas leis já em vigor. (...) Mas não parei por aí. Há quatro anos, apresentei o Projeto Cimento Social mostrando como exemplo uma casa na Rocinha e outra no Morro da Providência que reformei com recursos próprios.


Em determinado momento diz o artigo que “devemos evitar novos e maiores equívocos ou estaremos abdicando de toda esperança de amparo a outros tantos jovens”, fico me perguntando do que ele fala. Quais seriam os maiores equívocos? Talvez ele tente dizer do que de fato já ocorreu, ontem: a interrupção das obras do projeto Cimento Social. Para terminar a carta o senador-bispo (ou seria bispo-senador?) coloca no papel aquilo que ele crê.


“Creio que juntos podemos rasgar nos horizontes infinitos da esperança a perspectiva iluminada do nosso destino, que não é de cidade da dengue ou dos jovens assassinados, mas de Cidade Maravilhosa, de encantos mil e a mais linda do Brasil. Por isso sonho, luto e sofro e não desisto, porque é nisso que creio.”


A primeira vez que ouvi essas palavras pela boca de minha namorada, fiquei estarrecido. Nada é dito. Poderia ser um caso qualquer em qualquer periferia do mundo. Um texto rebuscado, vazio de sentido. Ao mesmo tempo a propaganda eleitoral... ah como eu poderia e desejaria ficar escrevendo só sobre essa frase “Mas não parei por aí”...

O que me deixa mais triste no entanto, é que muita gente deve ter achado bonita a declaração do senador, profunda e verdadeira. O sujeito crê em homens de bem, fatalidade e destino, pede a deus, e etc... A nossa situação é muito mais difícil do que nós pensamos, e sinceramente não sei o que podemos fazer, mas por enquanto sigo jogando toda a merda nos ventiladores que encontro e ligando-os na potência máxima.



* Em tempos de violência constante contra os moradores de periferias, essa violência em si muitas vezes já não chama atenção, o que é triste. Muito.

Monday, June 23, 2008

E tenho dito! I

Na ultima semana essas foram as noticias de acidentes graves com onibus no rio de janeiro. Sim, eu disse graves e na última semana. Brigado.

1. Onibus bate em poste e 16 feveridos
2.Colisão entre onibus fere 8 no rio
3. Onibus desgovernado bate em 9 carros

Friday, June 20, 2008

O novo maomé

To impressionado. Sex and the city é o novo Maomé.
Todas as mulheres que viram esse desenho ficaram putas demais.
E esse filme é como eu dizia na 6a série: não vi e tenho raiva de quem viu. Na verdade é mais preguiça mesmo.

Afinal quem vê filme de mulher? (além de mulher)

ps1: parece aquele filme inglês da mulher que fica se pesando de 3 em 3 horas e que eu consegui ver por 7 minutos.
ps2.podem falar mal de futebol, starwars, senhor dos aneis ou de Rocky ou Rambo... O nosso humor é sempre auto-depreciativo a si mesmo.
ps3 e o motivo disso tudo: Revista mais bizzarra que Marie Claire, vejam com os próprios olhos, mas li essa frase que é muito doida: "Necrophilia is the new bungee jumping" - Corpsy

Thursday, June 19, 2008

Monday, June 02, 2008

Fanfarronagem...

“Quando soube da história do Ronaldo com três travestis, me preocupei. Mas depois pensei assim: ainda bem que Aécio não estava no meio”...
Lula

Agora nessa história de tá no meio, quem me saiu bem mesmo foi outro presidente...

Sunday, June 01, 2008

Ruminescrências Estudantis I

Já moro no Rio há 2 meses, o que se é pouco tempo de fato, é tempo suficiente para me lembrar que eu realmente morarei aqui por dois anos, e não estou apenas passeando. Lembrança necessária. E aqui volta e meia, em todo lugar, frente a qualquer situação, tem hora que digo assim: "Porque lá em minas/Belorizonte/ufmg/fafich/casadamamãe", lembrando sempre de alguma coisa que foi importante para minha constituição ludopédica-sexo-moral-etílica. E isso me faz perceber que sim, eu estive vivo nesse tempo todo que morei em Belorizonte, e sim, fiz coisas interessantes, mesmo que não quisesse muito...


E é dessas coisas que vou falar. Mais especificamente das coisas que fiz ou aprendi como “Acadêmico da Grande BH”. Essas coisas que deveriam ser chatas, mas não são e que de alguma forma dão substância ao meu passado, para além das amizades, do samba, das 10.000 mulheres sonhadas, dos devaneios, dos inúmeros campeonatos mineiros do GaloForteVingador, da cerveja, do 129 gols marcados e 19 canetas na minha brilhante carreira pelas quadras de “cimento batido” nos recreios de Balão Vermelho e Santa Doróteia.

As pessoas que não vivem em determinado lugar tem, em geral, um medo errado encrustrado nas suas fantasias desse lugar. Por exemplo, o rio de janeiro. Quando dizia para pessoas com mais de 40 outonos que estava de partida para o Rio, todas diziam que eu ia morrer. Que aqui é perigoso e eu ia ser morto enforcado pelas minhas tripas num sinal de trânsito. De fato aqui é muito perigoso mesmo. Mas um dos maiores perigos da cidade é andar ou não de ônibus. Não tem solução. Porque se você tiver dentro deles pode acontecer igual aconteceu no mês passado com um ônibus que capotou na Barra da Tijuca, e um rapaz morrreu (sim, morreu). Ou se você estiver do lado de fora e for atravessar uma avenida com o sinal fechado, você acaba sendo atropelado. Por um lado ou pelo outro (sim, os ônibus aqui furam o sinal fechado pela contramão).

Os motoristas de ônibus desrespeitam sistematicamente os sinais de trânsito e não há em absoluto norma ou regra para eles. Tipo limite de velocidade, parar no ponto de onibus, ou qualquer outra coisa. Nos ultimo semestre da minha graduação em psicologia na UFMG, fiz um estágio que pesquisava as condições de trabalho de motoristas de determinada empresa de ônibus da região metropolitana de BH. A parte mais interessante desse estágio era que acompanhávamos os motoristas durante uma ou duas viagens por semana. Aí observávamos como estes realizam seu trabalho. O problema para a empresa era que os motoristas apresentavam muitos distúrbios mentais, e em especial, depressão. A proposta da psicologia da atividade, e da professora Beth Antunes, era que acompanhássemos a realização da atividade pelo trabalhador, buscando com isso compreender como o sujeito se relaciona com aquela atividade, quais são as dificuldades, assim como as estratégias que o trabalhador constrói para lidar com isso tudo do cotidiano. Seria uma comparação interessante, estudar as condições dos trabalhadores daqui do rio e daí de minas. Porque por aqui eles parecem muito mais libertos de regras formais, do que em Minas. Mas nos dois lugares (porque se tem uma coisa que não muda é a merda do capitalismo) todos têm que fazer os trechos num tempo x, mesmo que haja y acidentes e pedras no caminho. Com a variável y muito variável. A diferença é que aqui o caras podem ultrapassar, andar a 120, furar sinal e o que mais a criatividade malandra bolar. Enquanto em BH, os motoristas têm que andar a 60, e respeitar as regras de trânsito. O ‘must’ por aqui são os ônibus sem trocador, no qual o motô, tem que passar a segunda, dar o troco de uma nota de 20 para uma passagem de 2,25, e ainda calcular se furando o sinal não vai atropelar ninguém, enquanto masca a morena que adentra o busão. Isso sim é malabarismo. Haja brasileiridade, jeitinho... E se eu fizesse isso tudo também teria orgulho de ser brasileiro, o que eu não tenho.

Wednesday, May 28, 2008

Vida Carioca I




Minha nova casa e os meus mofos.

Tuesday, May 27, 2008

Genial


Esse site é muito foda!

Sunday, May 25, 2008

Em Brasília são 21:55, e em Botafogo também.

Digito essas palavras no meu computador. Essa máquina que um dia foi de todos lá em casa e agora é só minha. Veio com o resto dos meus pertences. Agora cada um da família tem o seu computador lá em Belzonte, e esse, que fora de todos, agora é meu. Por patético que seja, fico feliz com isso, essa puta, que passou na mão de todo mundo, agora é só minha. Mas é estranho vê-la aqui, no rio, na minha casa nova, quando de fato me acostumei com ela no quarto da casa, agora, de minha mãe. Mas estou feliz com ele aqui me sinto mais em casa. Um dia pensei bestamente como para moi Led Zeppelin decorava qualquer ambiente transformando em casa. Em casa me sinto mais, ao ver textos, músicas, tirinhas vividas e sofridas no tempo da casa primeira.
Sei que vivo no rio já há 2 meses, quase 3. De belo horizonte ficou a certeza da amizade mais linda, e das pessoas bonitas que me carregam com elas. Adorei no sábado perambular com a elisa, dentro de um fusca verde e bonito dirigido por um sujeito maluco, que subitamente saiu do carro com ele em movimento. Queria eu ser cineasta. Mas o fato foi que a gasolinha havia acabado sem avisar, o motorista me abre a porta e sai correndo ao lado do carro. Dali não duvidaria mais de coisa alguma. Amei estar com a Elisa até o quase amanhecer, bebendo e bailando por aí. Ah, que falta sinto dos amigos e das amigas. É bom quando a gente vai entendendo que não entende muito o porquê dos amigos. Mas que é feliz com isso. Porque uns de repente somem e se tornam ainda mais importantes. Ou outros que vemos tão poucos, mas que não arredam do coração. Não dá pra entender mesmo. Não sinto falta dos amigos. Porque sinto mesmo que estamos ressonando em qualquer canto da vida e do mundo. Em qualquer lugar. Ah vontade de doida que me dá as vezes de abraçar todo mundo que amo. Voltei do rio com uma sensação boa e tranquila. Não vou ficar filosofando aqui sobre a amizade. Mas tenho preguiça de quem cobra a amizade, cobra o tempo, cobra uma hora. Amo meus amigos inclusive na preguiça que ocasionalmente tenho de todos.
Aqui em Botafogo, bairro que venho admirando, nem pelas buzinas ou pelas calçadas de 1 metro de largura. Apenas venho admirando.
Uma leitura sagaz sobre o bairro aqui embaixo que vi no blog do André Dahmer.

"Durante todos os anos que morei em Botafogo eu fui Botafogo. Sujo, decadente, obsceno, subversivo e mesmo assim com algum charme e impetuoso. Cada morador de Botafogo guarda em seu coração uma amargura. Alguns uma enorme, do tamanho de uma melancia que engole o coração, mastiga a auto-estima e cospe tudo em um prato da Tok&Stok com a cor da moda. Uma matilha de quase artistas, quase diretores de empresas, quase bem sucedidos que caminham pela praia imunda se perguntando por que não conseguem desfilar com o seu IPod pela Lagoa ou pela Vieira Souto. As duas coisas que ainda colocam um sorriso no rosto desses homens de pouca sorte é o fato de seu orgulho não permitir eles morarem no subúrbio e que não estão tão velhos para morarem em Copacabana. "

Viciado Carioca

Friday, May 16, 2008

Melhor samba "Rasga o coração e cai na vida" do planeta

Se fode quem chama isso de pagode.
Melhor ainda:
Se fode quem acha que pagode é pior que samba. Raiz só é bom pra quem gosta de ficar parado.

Tuesday, May 06, 2008

O fascismo nosso… Isstudo de um caso I

Num dos últimos textos deste Blog narrei minha desventura a bordo de um ônibus, na companhia de um certo engenheiro militar. Nunca havia pensado a respeito desse arquétipo, engenheiro militar, pois parece algo inverossímel. Como se já não bastasse ser engenheiro ou militar. Bom, mas o fato é que por mais louco que possa parecer esse sujeito realmente falou as coisas citadas no texto. Talvez tenha esquecido algo (ele falou também da fama de valente dos homens de sua cidade), mas o principal está aí. Como foi comentado pelo Chico, eu talvez devesse ter conversado com o sujeito e interpelado-o. Outros achavam que perdi a chance de tirar um babaca de circulação (o que obviamente passou pela minha cabeça). Numa disciplina do mestrado, quando narrei o fato, uma colega perguntou se o sujeito não achou ruim o meu cabelo (meio hippie), o fato de ser psicólogo ou mesmo estudante de mestrado. Ou seja tudo terrorista comunista. Mas de fato eu não existia para aquele sujeito, ele apenas disparou sua metralhadora giratória, e eu ali, me reduzi a escutá-lo. Na posição do Chico, a partir dos seus comentarios, tem algo que acho importante, e outra coisa que acredito ser um tanto ingênuo. O argumento do Chico é que assumindo minha posição de intelectual, deveria eu dialogar com esse cara, que se encontra num poço de ignorância, e enfim resgatá-lo de lá. Mostrar a ele como sua opção é equivocada. Obviamente pintei com cores fortes a figura, mas é mais ou menos isso o que o comentário sugeria. O que acho importante nisso é que agindo assim assumimos uma posição mais responsável e menos cínica frente aos problemas da vida, e não nos fechamos numa posição certamente cômoda de relatar o fato para outras pessoas, passando do drama vivido à comédia. Mas acho ingênuo também, porque é acreditar que de fato a razão é boa, e as pessoas que são más, filha da puta ou do capeta, o são porque não pensaram direito. E depois que discutíssemos sobre a ditadura militar, a democracia e os direitos humanos, o sujeito iria mudar suas atitudes e pensamentos. Não acredito nisso. Adotei uma posição ausente, instrumental, de quem observa de fora como se eu não estivesse ali. Isso porque se num primeiro momento estranhei o sujeito dizendo o que ele dizia, num segundo queria saber até onde ele iria. Quando ele falou que “nós militares estamos doidos para voltar”, ou algo assim, não deixei de pensar no que essa frase contém de verdade para os militares (que infelizmente ainda são os que estão com as armas). Pressentia que isso era importante. Como outro dia, numa fila de supermercado, quando ouvi um senhor comentando sarcasticamente sobre um casal que estava na fila rápida ( para no máximo 15 produtos) com muito mais do que isso, “o povo é burro, coitado, não sabe contar até 15, e depois vai eleger um presidente como esse aí...”. Tenho certeza que todo mundo aí já ouviu isso (povo burro elege presidente burro), das filas desse Brasil, aos almoços de família. Gabriel Tarde escreveu há muito tempo atrás: “Politicamente, não são tanto as conversações e discussões parlamentares, e sim as conversações e discussões privadas, que importa considerar. É aí que o poder se elabora, enquanto, nas camaras de deputados e em seus corredores, o poder se desgasta e, frequentemente se avilta. (...) Os cafés, os salões, as lojas, quaisquer locais onde se conversa, são as verdadeiras fábricas do poder.” (Opinião e as massas, Ed. Martins Fontes, p.121).

E me diga você, qual será o poder que estamos fabricando nos shopping centers, blogs e açougues dessa vida, hein?

Saturday, April 19, 2008

Minha Metafísica



Ouvi essa canção há muito tempo. E por muito tempo. Era criança e me divertia com essa história. Porra!!! o capeta ia a missa no final, como pode?
Algum tempo depois, quando essa canção já me cercava como mito, li dentro de um ônibus, o seguinte conto.


EU E BEBU NA HORA NEUTRA DA MADRUGADA

Rubem Braga

Muitos homens, e até senhoras, já receberam a visita do Diabo, e conversaram com ele de um modo elegante e paradoxal. Centenas de escritores sem assunto inventaram uma palestra com o Diabo. Quanto a mim, o caso é diferente. Ele não entrou subitamente em meu quarto, não apareceu pelo buraco da fechadura, nem sob a luz vermelha do abajur. Passou um dia inteiro comigo. Descemos juntos o elevador, andamos pelas ruas, trabalhamos e comemos juntos.

A princípio confesso que estava um pouco inquieto. Quando fui comprar cigarros, receei que ele dirigisse algum galanteio baixo à moça da tabacaria. É uma senhorinha de olhos de garapa e cabelos castanhos muito simples, que eu conheço e me conhece, embora a gente não se cumprimente. Mas o Diabo se portou honestamente. O dia toda - era um sábado - correu sem novidade. Ele esteve ao meu lado na mesa de trabalho, no restaurante, no engraxate, no barbeiro. Eu lhe paguei o cafezinho; ele me pagou o bonde.

À tarde, eu já não o chamava de Belzebu, mas apenas de Bebu, e ele me chamava de Rubem. Nossa intimidade caminhava rapidamente, mesmo sem a gente esperar. Quando um cego nos pediu esmola, dei duzentos réis. É meu hábito, sempre dou duzentos réis. Ele deu uma prata de dois mil-réis, não sei se por veneta ou porque não tinha mais miúdo. Conversamos pouco; não havia assunto.

À noite, depois do jantar, fomos ao cinema... Outra vez me voltou a inquietude, que sentira pela manhã. Por coincidência, ele ficou sentado junto a duas mocinhas que eu conhecia vagamente, por serem amigas de uma prima que tenho no subúrbio. Temi que ele fosse inconveniente; ficaria constrangido. Vigiei-o durante a metade da fita, mas ele estava sossegado em sua cadeira; tranqüilizei-me. Foi então que reparei que ao meu lado esquerdo sentara-se uma rapariga que me pareceu bonita. Observei-a na penumbra. A sua pele era morena, e os cabelos quase crespos. Sentia a tepidez de seu corpo. Ela acompanhava a fita com muita. atenção. Lentamente, toquei o seu braço com o meu; era fácil e natural; isto sempre acontece por acaso com as pessoas que estão sentadas juntas no cinema.

Mas aquela carícia banal me encheu as velas de desejo. Suavemente, não deslizei a minha mão para a esquerda. A moça continuava olhando para pio o filme. Achei-a linda e tive a impressão de que ela sentia como eu estava me emocionado, e que isto lhe dava prazer. Mas neste momento, ouço um pequeno riso e viro-me. Bebu está do me olhando. Na verdade não está rindo; está sério. Mas em seus olhos há uma qualquer malícia. Envergonhei-me como uma criança. A fita acabou e não falamos no incidente. Eu fui para o jornal fazer o plantão da noite. Só conversamos à vontade pela madrugada. A madrugada tem uma hora neutra que há muito tempo observo. É quando passo a tarde toda trabalhando, e depois ainda trabalho até a meia-noite na redação. Estou fatigado, mas não me agrada dormir. É aí que vem, não sei como, a hora neutra. Eu e Bebu ficamos diante de uma garrafa de cerveja em um bar qualquer. Bebemos lentamente sem prazer e sem aborrecimento. Na minha cabeça havia uma vaga sensação de efervescência, alguma coisa morna, como há um pequeno peso. Isto sempre me acontece: é a madrugada, depois de um de dia de trabalheiras cacetes. Conversamos não me lembro sobre o que. Pedimos outra cerveja. Muitas vezes pedimos outra cerveja. Houve um momento em que olhei sua cara banal, seu ar de burocrata avariado, e disse: - Bebu, você não parece o Diabo. É apenas, como se costuma dizer, um pobre-diabo. Ele me fitou com seus olhos escuros e disse:

- Um pobre-diabo é um pobre Deus que fracassou.

Disse isto sem solenidade nenhuma, como se não tivesse feito uma frase. De repente me perguntou se eu acreditava no Bem e no Mal. Não respondi; eu não acreditava.

Mas a nossa conversa estava ficando ridícula. Desagradava-me falar eu sobre esses assuntos vagos e solenes. Disse-lhe isto, mas ele não me deu a menor atenção. Grunhiu apenas.

· Existem.

Depois, afrouxou o laço da gravata e falou: - Há o Bem e o Mal, mas não é como você pensa. Afinal quem é você? Em que você pensa? Com certeza naquela moça que vende cigarros, de cabelos castanhos...

Estas palavras de Bebu me desagradaram. Ele dissera exatamente como por acaso aquela moça de olhos de garapa... Era assim que eu me exprimia mentalmente, era esta a imagem que me vinha a cabeça sempre que pensava nos olhos daquela senhorinha. "

Sei que não é uma comparação nova; ha muitos olhos que tem aquela, mesma cor meio verde, meio escura, de ca1d.o de cana; olhos doces, muito ver doces; e muitas pessoas já notaram isso; e até eu já vi essa imagem em uma poesia, não me lembro de quem. Mas a coincidência era alarmante; não podia ser coincidência. Bebu lia no meu pensamento, e, o que era pior, lia sem nenhum interesse, como se lê um jornal de anteontem. Isso me irritou:

- Ora, Bebu, não se trata de mim. Você estava falando do Bem e do Mal. Uma conversa besta...

Ele não ligou:

- Está bem, Rubem: o Bem e o Mal existem, fique sabendo. Você morou muito tempo em São José do Rio Branco, não morou?

- Estive lá quase dois anos. Trabalhava com o meu tio. Um lugarzinho parado...

- Bem. Lá havia um prefeito, um velho prefeito, o Coronel Barbirato. Mas o nome não tem importância. Imagine isto uma cidade pequena onde há sempre um prefeito, o mesmo prefeito. Esse prefeito nunca será deposto, nunca deixará de ser reeleito, sempre será o prefeito. E há também um homem que lhe faz oposição. Esse homem uma vez quis depor o prefeito, mas foi derrotado e o será sempre. O povo da cidade teme, aborrece, estima, odeia o prefeito; não importa. Pois é isto.

Bebu pós um pouco de cerveja no copo e continuou falando.

- É isto o Bem e o Mal. O prefeito acha que os bancos do jardim devem ser colocados diante da igreja: isto é o Bem. O homem da oposição acha que eles devem ficar em volta do coreto? Isto é o Mal. Entretanto...

- Bebu, deixe de ser chato.

- Não amole. Você sabe a minha história. Fiz uma revolução contra Deus. Perdi, fui vencido, fui exilado; nunca tive nem implorei anistia. Deus me venceu para todos os séculos, para a eternidade. É o prefeito eterno, ninguém pode fazer nada. Agora, se tem coragem, imagine isto eu saio de meu inferno uma bela tarde, junto meu pessoal, faço uma campanha de radiodifusão, arranjo armamento, vou até o Paraíso e derroto aquele patife. Expulso de lá aquela canalha, todas aquelas onze mil virgens, aquela santaria imunda. O que acontece?

Eu não respondi. Irritava-me aquele modo de falar Bebu continuou com mais veemência:

- Acontece isto, seu animal: não acontece nada! Você reparou quando uma revolução vence? Os homens se renderão diante do fato consumado. O Bem será o Mal, e o Mal será o Bem. Quem passou a vida adulando Deus irá para o inferno deixar de ser imbecil. Eu farei a derrubada: em vez de anjinhos, os capetinhas; em vez dos santos, os dem5nios. Tudo será a mesma coisa, mas exatamente o contrário. Não precisarei nem modificar as religiões. Só mudar uma palavra, nos livros santos onde estiver “não", escrever “sim", onde estiver “pecado", escrever “virtude". E o mundo tocara para a frente. Vocês não seguirão a minha lei, como não seguem a dele; não importa, será sempre a lei.

Eu me senti a atordoado. Percebi que lá fora, na rua, as lâmpadas se apagavam e murmurei: seis horas. Bebu falava com um ar de desconsolo.

- Mas não pense nisto. Aquele patife está firme. É possível depô-lo? Impossível! Impossível...

Olhei a sua cara. Dentro de seus olhos, no fundo deles, muito longe, havia um brilho. Era uma pequena, miserável esperança, muito distante, mas todavia irredutível. Senti pena de Bebu. É estranho, eu não passo olhar uma pessoa assim, no fundo dos olhas, sem sentir pena. Fui consolando.

- Enfim, meu caro, não adiantaria coisa alguma. Você como está, vai bem. Tem seu prestígio...

- Eu estou bem? Canalha! Pensa que, quando me revoltei, foi à toa? Conhece o meu programa de governo, sabe quais foram os ideais que me levaram à luta? Padre explicar por que, através de todos as séculos, desde que o mundo não era mundo até hoje, até sempre, fui eu, Lúcifer, o único que teve peito para se revoltar? Você sabe que, modéstia à parte, eu era o melhor da turma? Eu era o mais brilhante, o mais feliz, o mais puro, era feito de luz. Porque é que me levantei contra ele, arriscando tudo? O governo atual diz que eu fui movido pela ambição e pela vaidade. Mas todos os governos dizem isto de todos os revolucionários fracassados! Olhe, você é tão burro que eu vou lhe dizer. Esta joça não ficava assim não. Eu podia lhe contar o meu programa; não conto, porque não sou nenhum desses políticas idiotas que vivem salvando a pátria com plataformas. Mas reflita um pouco, meu animal. Deus me derrotou, me esmagou, e nunca nenhum vencedor foi mais infame para com um vencido. Mas pelo amor que você tem a esse canalha, diga-me: o que é que ele fez até agora? A vida que ele organizou e que ele dirige não é uma miséria? - uma porca miséria? Você sabe perfeitamente disto. Os homens não sofrem, não se matam, não vivem fazendo burradas? É impossível esconder o fracasso. Deus fracassou, fracassou mi-se-ra-vel-men-te! E agora, vamos, me diga: por pior que eu fosse, acha possível, camarada, acha possível que eu organizasse um mundo tão ridículo, tão sujo?

Não respondi a Bebu. Esvaziamos em silêncio o último copo de cerveja. Eu ia pedir outra, mas refleti amargamente que não tinha mais dinheiro na bolso. Ele, por sua vez, constatou o mesmo. Saímos. Lá fora já era dia:

- Puxa vida! Que sol claro, Bebu! Isto deve ser sete horas. Andamos até a esquina da Avenida.

Ele me perguntou:

- Onde é que você vai?

- Vou dormir. E você?

Bebu me olhou com seus olhos escuros e respondeu com um sorriso anjo.

- Vou à missa...

Julho, 1933

Wednesday, April 09, 2008

O fascismo nosso... - De madrugada

Cena: Viagem de ônibus, madrugada. O diálogo ocorre ainda na rodoviária..

-Mas, rapaiz, veja bem o estado dessa rodoviária...é um absurdo. Isso aqui é a porta do país entende? O que os turistas vão pensar quando passam nessa rodoviária, quebrada, suja, fedorenta...

(Pensei em argumentar que não havia turistas na acepção européia da palavras naquela rodoviária, e disse:)

-É um absurdo mesmo, e olha que já tá em reforma há um tempão...

-Pois é, e olha que reforminha mixuruca...tá tudo errado...

-Desse jeito vai demorar muito pra ficar pronto. Mas também isso fica assim porque não tem muitos turistas né, aí acaba que esse povo não fica com pressa pra arrumar direito.

-Tem sim. Olha só, se o cara vai pra Petrópolis tem que passar por aqui, ou então pra Búzio...se bem que não, Búzios já tem aeroporto internacional.

-...

- Mas olha só que lixo...tá tudo errado. (“Tudo errado” duas vezes é sinal que já vem...)

-...

- E esse Lula como pode. O povo burro, como pode eleger um presidente assim, um ignorante. É por isso né com esse povo também não dá pra fazer melhor, é impressionante. Eu tive esse dias no Acre e lá vi umas coisas que não dá nem pra acreditar. Um sujeito esfaqueou o outro na nossa frente por causa nada, esfaqueou como se furasse um saco de farinha, mas também depois o povo foi e cortou a perna do cara, e ele ficou lá, no chão agonizando...

-...

-Mas esse Lula... brincadeira viu. Vontade que dá é da gente pegar ele, raspar aquela barba e dar uma coça nele...

-O senhor é engenheiro? (era óbvio, mas perguntei)

-Engenheiro militar (que tipo de pessoa é essa?)

-Então você deve viajar muito né?

-Vou pra todo canto do país, ja viajei muito. Mas você sabe que tem uns lugares bem bacanas. Rondônia, por exemplo, é ótimo. Agora o Acre, meu amigo...

-...

-Mas na verdade são esses políticos todos, tudo corrupto, sabe... porque a gente não ta agüentando mais. Por mim a gente já tava na rua de novo. Pegar esses deputados safados, arrebentar esses caras... Nós tão pronto pra qualquer coisa, eu acho que tá demorando...

-Aham...

-Porque olha essa baixada fluminense, que desastre. Que merda. No meu tempo, isso aqui tinha comércio forte. Agora é só traficante... um absurdo.

-Pois é...

-Falta de vergonha, isso sim. Olha só eu tenho 41 anos. Entrei na escola militar em 86, com Figueiredo. Mas eu vivi minha infância com o Geisel...aquilo é que era bom, não tinha essa pouca vergonha. Vê só essas meninas aqui atrás. Meninas bonitinhas e tal, mas só falando palavrão, “porra”, “caralho”, vontade de ir lá e enfiar a mão nessas meninas, quebrar os dentes, e se chorar, mandar ainda engolir o choro.

-Isso é complicado né?

-Né nada, complicado é essas meninas ficarem falando essas merdas aí, e as mães de família ter que ficar ouvindo isso....isso é que é complicado.

- (coloco o meu fone de ouvido e finjo que vou dormir...)

- Ah não cara tá tudo errado hoje. Vê só, agora PM quer prender militar. Onde já se viu. PMzinho prendendo oficial fardado, naquela época não tinha isso não. Absurdo. Esse país ta piorando muito.

-...

-Mas o problema é que brasileiro é muito acomodado sabe. Tipo todo mundo agora só quer benefício de governo. Ninguém quer saber de trabalhar. Onde já se viu governo dá dinheiro pro povo. Ai vai e compra fogão, geladeira e nada de comida. Tinha que proibir. Falta disciplina.

- Disso vocês entendem né..

-Pois é. Veja bem, ta tudo muito acomodado, tinha que ter mais disciplina. É por isso que esse país ta assim, na merda. Ninguém tem disciplina.

-...

Friday, April 04, 2008

Brincadeira de Criança

Estava dentro do ônibus, e da janela observava o que acontecia numa pequena praça, no centro da cidade. Num misto de “flaneur” e psicólogo social em estado de latência, achava particularmente interessante um grande grupo de adolescentes que conversavam animadamente. Era um grupo de cerca de 15 a 20 meninos e meninas que brincavam, riam e conversavam naquele tom de recreio, hoje já um tanto nostálgico. O psicólogo social que me habita achou interessante o fato de todos eles parecerem trabalhar dentro desses programas tipo primeiro emprego, cruz vermelha e etc, pois estavam todos uniformizados. Aquilo deveria ser a hora do almoço, e eles ficavam ali juntos, como num recreio. Deviam ter uma média de 16 anos, e articulava a presença deles ali com a emergência dos programas de emprego, como a sociabilidade juvenil era afetada...blablabla, mas aí subitamente, no outro canto da praça, na frente de um prédio antigo em reforma, onde também jovens trabalhavam na obra vi algo muito engraçado. Eram cerca de 10 meninos encostados na parede do prédio. Mais uns 5 estavam espalhados num raio próximo, meio em círculo, fazendo o famoso “quilo” e se refazendo do almoço. Duas mulheres vinham passando, desavisadas, no meio do grupo. Subitamente um dos meninos saiu correndo e gritando em direção às duas mulheres, mas aí quando o menino chegou perto delas desviou e entrou no prédio. Nisso a mulher já havia expulsado o capeta que mora entro dela do tanto que berrou. Ela provavelmente não sabia se ficava puta ou envergonhada. Só dei que o resto do grupo se dobrava de tanto rir. Eu também não me contive dentro do ônibus. Sabia, no entanto, que se tivesse no lugar da mulher talvez fizesse o mesmo. E era essa a brincadeira. Deixar na cara das pessoas o ridículo do medo dos “pivete”, dos menino “de” rua. Pelo menos ela sentiu vergonha. Eu sentiria.

Antropologia de boteco na casa do senhor. Rubem Braga e Mr. Perna

No dia 10 de março do ano corrente o Mr. Perna jogou o texto "Um dia na Igreja" no seu blog. Não vou ficar aqui babando o ovo, mas a narrativa é muito foda mesmo. De chorar. Mas não teve jeito, lendo-o não consegui me desvencilhar da fixação por um outro texto, semelhante a esse, do meu paiespiritual-guru-mestre-almaguia: Rubem Braga.

REPORTAGENS

RUBEM BRAGA


O repórter de um vespertino carioca visitou uma casa em que viu muitos homens e mulheres cantando, um homem de roupa esquisita bebendo e rezando. O pessoa falava, às vezes, uma língua estranham e fazia gestos especiais.

O repórter tirou uma fotografia e voltou para a redação com uma reportagem atrapalhada falando de macumba, pai-de-santo, Exu, gongá, Ogum e outros nomes que servem para a cor local.

A reportagem acabava com a seguinte pergunta: “Que dirá a isso o senhor chefe de policia?”

Não tenho nenhum comentário a fazer a respeito. Quero apenas resumir aqui uma outra reportagem que fiz há tempo, por acaso, quando estava no Rio. Eu ia pela rua, certa pessoa me interessou e eu a segui. Ela entrou em uma casa grande. Como não tinha jeito de casa de família , também entrei. Dentro dessa casa vi tantas coisas extraordinárias que acabei esquecendo a tal pessoa.

Havia no fundo de uma ampla sala, armações de madeira, coloridas e iluminadas por pequenas lâmpadas elétricas e por algumas velas. Pelas paredes em buracos apropriados, haviam sido espalhadas estatuetas mal feitas. Um homem com uma espécie de camisola preta e com um pano bordado de ouro nas costas dizia palavras estranhas em uma língua incompreensível. A um gesto seu, mulheres e homens se ajoelharam murmurando coisas imperceptíveis. Depois apareceu um menino com uma camisola vermelha trazendo uma caçamba de onde saía fumaça cheirosa. Uma campainha fininha começou a tocar. Todo mundo ajoelhado abaixava a cabeça e batia no peito. O homem de camisolão preto bebeu um pouco de vinho e começou a meter na boca de cada velha que se ajoelhava em sua frente uma rodela branca. Em certo momento o menino de camisola saiu com uma bandeja. Pensei que ele fosse distribuir vinho, mas em vez disso recolhia níqueis e pratinhas. Depois umas senhoritas que estavam em uma espécie de camarote começaram a cantar. Vi mulheres com véus na cabeça e fitinhas azuis no pescoço fazendo sinais estranho e vi ainda muitas outras coisa mais.

Que dirá a isso o senhor Chefe de Policia?

Recife, 1935

Sunday, March 30, 2008

Politica dos Possiveis

Liberdade é possibilidade, nada mais. Com efeito, toda decisão supõe uma deliberação prévia, durante a qual várias idéias de ações diferentes se ofereceram sucessivamente ou conjuntamente ao pensamento. Entre essas idéias, somente uma é realizada; mas as outras não foram menos apresentadas ao espírito. Portanto, não podemos pensar na decisão que foi tomada sem pensar ao mesmo tempo nas que não o foram; além disso, estamos convencidos, com razão, de que, se a primeira não tivesse sido tomada, uma outra o teria sido. (...) a realização de uma das idéias apresentadas ao espírito teve como condição a não-realização de todas as outras. p. 218-9
Gabriel Tarde - Os Possíveis -
Em: Monadologia E Sociologia - Gabriel Tarde -
Organização e introdução: Eduardo Viana Vargas
Tradução: Paulo Neves

Friday, March 21, 2008

Sexta Feir da Paixão

Um singela homenagem a Djesus Cristo:
Fight Djesus !!

Tuesday, March 18, 2008

Sapeações Cariocas I

Das melhores coisas de estar no Rio
é poder dizer que eu não sou daqui, que sou de minas.

Orgulho é uma coisa que a gente sente mais forte quando está longe.
É o contrário da vergonha.

Quando um amigo meu falou, "O brasil é o melhor lugar do mundo"
eu respondi, "Principalmente quando se está na frança".

Ele estava na frança

Friday, March 14, 2008

Festa de Despedida e o Rio jaéé...

É estranho quando as coisas saem do jeito que a gente queria. Na minha vida assim como na do Kevin normalmente não é assim. Quando aquela linda menina olha pra gente e corre em nossa direção com os braços abertos, enquanto o coração palpita acelerado e a mente demora a acreditar que aquela coisinha está realmente vindo em nossa direção, sempre surge um babaca atrás da gente e nos atropela abraçando a menina. E a gente fica assim de braços abertos esperando o raio divino que venha acabar com essa palhaçada. É assim, dá tudo errado sempre. Poderosa lição de "Anos Incríveis".
Mas, por incrível que pareça, as coisas as vezes acontecem do jeitinho que a gente queria mesmo. Isso é mais poderoso do que qualquer ensinamento moral, ético, estatístico. Nessas horas entendo aqueles que acreditam em Deus.
Mas foi assim que me senti na minha festa de despedida. Vivendo as coisas todas que eu queria viver e mais aquelas que eu não esperava e que também aconteceram. Fiquei muito feliz mesmo, com a presença dos amigos, a alegria e a cerveja quase sempre gelada. É realmente bom fazer festa em casa. Receber as pessoas, abrir esse espaço normalmente tão chato que é a nossa sala de (mal) estar. Apenas uma coisa não aconteceu como havia imaginado, a policia não deu as caras.

Aprendo muitas coisas com a Gabriela, mon cherrie. Uma delas é ritualizar a vida, e assim ela se torna bonita, gostosa, sinuosa. Escrevi um longo texto sobre isso. Mas o texto perdeu o onibus e ficou em BH. Isso tambem reflete uma mudança por essas bandas daqui. Antes eu escrevia um texto e lia relia, cortava, relia de novo, dormia e meses depois lia de novo e ai sim colocava no blog. Agora tenho encarado melhor minhas péssimas acentuações e concordancias e escrito ja na pagina do blogger.
Mas a coisa do ritual devia ser levada mais a brincadeira mesmo. Tomar um café da manhã com frutas e musica salva o dia. A minha festa me deu animo e alegria no coração para partir, pois sei que vim de algum lugar e posso sempre voltar.
Obrigado amigos...

Monday, March 03, 2008

Homenagem a Elisa: Astúcia Infantil ... NOT!



As vezes a gente se pega idealizando em que momento afinal despertou o genio da humanidade em nosso ser. Vamos lá atrás na história, tentando ver momentos de grandeza em ações da infancia. Essas coisas reforçam os mitos que sustentam uma certa imagem, mais ou menos grandiosa de cada um. Eu mesmo, quando neném, isso minha mãe é que conta, pois eu obviamente não me alembro, protagonizei uma ceninha bem memorável. Estava euzinho majestoso no meu berço a chupar bico. Minha mãe entrou no quarto para ver se tudo corria bem. Quando ela saía, eu subitamente levantei no berço, fiquei em pé, tirei o bico da boca e o ergui até o alto atirando-o com violencia para fora do berço, no chão. Nunca mais na minha vida pus um bico na boca a partir desse dia.
Convenhamos que é uma bela história né.

Mas tem outras também menos memoráveis. Na quinta série foi realizado um debate na sala de aula em forma de tribunal. As invenções humanas eram boas ou ruins? A evolução tecnológica melhorou ou piorou a humanidade? O bacana aqui pensava assim, há quase exatos 14 anos. Só lembrando, na época do texto o brasil era tricampeão mundial de futebol.

"Senhores Juízes e Senhores Jurados O homem dia após dia evolui, inventa obejtos, tira conclusões. Essa evolução não vem trazendo benefícios e sim, mortes, doenças, fome e miséria. Os carros são um dos principais inventos do homem que mais ocorre acidentes todo dia centenas de pessoas morrem envolvidas em acidentes de veículos. A arma de fogo também acaba com a vida de muitas pessoas. Todos os dois criados pelo homem, a vida na Terra vai ficar insuportável, assaltos, roubos e outros crimes por causa da influencia das pessoas. O homem destrói a natureza, cada dia que passa as árvores e os animais morrem por causa da poluição. As doenças, muitas doenças ocorrem por causa da alimentação, e a higiene das pessoas, elas tem que se conscientizar que todo mundo come muita 'bobagem' se comessem coisas mais nutritivas o indice de doenças diminuiria e muito. Rafael Prosdocimi Bacelar - 15-03-1994"

Genial. No inicio rola uma coisa meio marxista, a tecnologia acaba com homem blablabla. Depois , subitamente aparece o tiozão reaça falando que a vida vai ficar insuportável por causa dos assaltos. E termina com um sermão de mãe mandando os meninos não comerem 'bobagem' se alimentarem direito. Criança ouve tanta besteira né, que depois sai repetindo por aí.

Ps: O Brasil atualmente é pentacampeão mundial de futebol