Sunday, April 03, 2005

Onde estará o meu amor?

Rafael Prosdocimi


Essa semana vi o filme Antes do Pôr-do-sol que consiste, basicamente, na conversa entre um homem e uma mulher que conseguem manter a tensão sexual durante toda a história. Uma conversa estupidamente gostosa, uma mascação deliciosa dessas que a gente lê mais do que faz. Os dois tem 32 anos e se reencontram depois de apenas um dia de conversa e amor em Viena, 9 anos atrás (e eu tentando, em vão, me apaixonar em Belo Horizonte, deveria tentar o velho continente). Eles haviam combinado de se encontrar seis meses depois desse primeiro encontro (ele americano e ela francesa- como, aliás acho que toda mulher deveria ser), mas ela não vai ao encontro. Cada um leva a sua vida do jeito que dá, e 9 anos depois eles se reencontram. Ele estava em Paris autografando e lançando um livro que havia escrito sobre essa única noite na presença da francesinha quando ela aparece. Os dois saem por Paris para conversar. Essa conversa além de excitante, gostosa, linda me lembra muito algumas “conversas” que tive por aí.
Não gastaria mais meu tempo fazendo resenha desse filme, mas de fato há um momento no qual a francesa diz que todo o amor, que ela tinha na vida, ficou naquele encontro que os dois tiveram há 9 anos. O homem por sua vez diz que o amor que ele tinha ficou em Viena (lugar combinado para o reencontro 6 meses depois do primeiro encontro, mas no qual a moça não aparece). Perdemos nosso amor todos os dias e aprendemos, e bem, a viver sem ele. Os dois tiveram seus parceiros depois de tudo o que aconteceu entre eles, mas de alguma forma o “não-ocorrido” preenchia suas vidas, de uma forma dolorosa e constante. A idéia de que aquele encontro foi algo maior para os dois não saía da mente de ambos. Ele estava fazendo sucesso por escrever um livro que retratava aquele encontro.
A vida dos dois só não era mais vazia, pois permanecia o espaço do “talvez, se as coisas tivessem sido diferentes...”. Ele casado com um filho e sem amor, e ela livre, com um namorado ausente, desgarrada pra que essa tal felicidade não atrapalhasse muito sua vida. Acho que são os dois caminhos dos mais óbvios de tomar, quando perdemos o amor. Um: casar com uma pessoa que não seja de toda desagradável e que permita a sobrevivência, que tenha o mínimo necessário para gerar e desenvolver um outro ser; o outro caminho: se relacionar levianamente com qualquer pessoa e concentrar toda a energia no trabalho. Mantém-se ai um amor forte por si-mesmo (matéria essa na qual eu sou um primor). Os dois perderam em sua vida essa vontade louca de se perder no outro. O desencanto marca de vez uma possibilidade que nunca mais ocorrerá. Nunca mais se amará quando assim se decidir. E é sempre mais fácil.
Se esse filme fosse uma aula, ou uma fábula, concluiria eu que devo muito saber onde perdi o meu amor (o que eu sei) e tratar de fazer algo para acha-lo (o que é mais difícil). Se alguém fizesse, construísse uma religião dos Caçadores do Amor Perdido acho que se faria um bem à humanidade superior ao que toda e qualquer religião fez nos últimos 5000 anos. Mas pode ter certeza que eu não me inscreveria.

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