Tuesday, October 03, 2006

MEUS SATÉLITES

Algumas frases musicais adquirem tanta beleza, sem explicação, que ficam me orbitando e produzindo sensações que não se explicam nos em-sis. Fica a frase rondando nas minhas horas, buscando um sentido escondido entre o décimo-terceiro e o décimo-quarto minuto das 9 horas. Não sei explicar, nem entender, dessas frases que só tem em comum o fato de se repetirem em minha mente muitas vezes, produzindo sempre o mesmo efeito (beleza bem vagabunda), até que então passa. Representam a abertura ao mundo que a poesia, a sempre nossa poesia apropriada, arte produz. “Ela não sabe/ Quanta Tristeza/ Cabe numa solidão...”. E a frase é só isso mesmo. Mas, já adianto, só faz sentido com a música.
Já foram outras frases, outros sentidos, outros setembros. Mas foram sempre essas coisas. “Que prazer tem bater se ela não vai ouvir, que prazer tem sorrir se ela não vai sorrir também”. “Foi como tudo na vida que o tempo desfaz, quando menos se quer, uma desilusão assim faz a gente perder a fé, e ninguém é feliz viu, se o amor não lhe quer, mas enfim...”. “Convence as paredes do quarto e dorme tranqüilo sabendo no fundo do peito que não era nada daquilo”. “Acontece que já não sei mais amar, vais chorar, vais sofrer e você não merece, mas isso acontece...”. “Passado é um pé no chão e um sabiá, presente é a porta aberta, e o futuro é o que virá”. E mesmo a já famigerada, “você me ligou naquela tarde vazia e me valeu o dia”. São frases a toa que não encontrarão espaço orbital em nenhuma outra alma além da minha. E isso me deixa feliz. Saber que um sujeito olhou pra noite, fumou um cigarro, tomou uma dose de uísque, e terminou uma música, com a frase: “Ela não sabe/ quanta tristeza/ cabe numa solidão.” Dizer que foi Vinicius que escreveu isso seria recorrer ao óbvio. Quantas palavras bastam para um sujeito assinar sua vida no mundo?
Essas frases musicais dizem –me todas as coisas além daquelas que seus autores nunca pensaram. Como situar esse “mas enfim...” para ver se você entende aqui o que falo. As frases que orbitam dizem tanto da gente, e dizem tanto também do que a gente quer dizer da gente, que é melhor calar.

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