Na noite do ultimo sábado, dia 25 de março, vosso estimado repórter da vida passeava de carro pela cidade de Belo Horizonte. Passeava acompanhado de minha distinta e mui formosa senhorita, da irmã dela e do namorado desta. A vida se encontrava livre de aborrecimentos, além daquele proveniente de uma chuva fina. Uma chuva de março como diria um meteorologista bossanova. Tudo soava belo e tranqüilo, e mesmo com a chuva, diria até que aquele fora um dia bonito. Estávamos passeando em companhia alegre e bem humorada, indo a caminho de lugar nenhum, sem pressa ou preocupação. O carro nos proporcionava conforto, quase tédio, esta maravilha da natureza. E nesse carro havia o controle da temperatura ambiental, o ar condicionado garantia um frio bastante aconchegante. Sentia-me um europeu. Avançávamos pelas ruas, sem pensar na vida lá fora. Os carros com ar condicionado parecem nos dizer: “A temperatura do ambiente pode ser controlada”. Mas no fundo, eles nos dizem: “Podem se afastar do mundo, e seguir, como uma célula à parte da vida, independentes do que acontece lá fora”. Eles nos dizem que podemos nos afastar desse mundo daqui debaixo (do mundo real) e fingir que estamos apenas de passagem, o próprio “sueco em trânsito”, de Rubem Braga. Parados num sinal, aproximou-se de nós um menino que, em outro veículo de informação, seria definido como um “menor”.
E nós naquela incrível célula auto-suficiente, nos vimos frente a frente com o mundo, isso porque os vidros, infelizmente, ainda permitem duplo contato visual. E a criança colou seu rosto feio e sujo, no meu vidro, e eu que havia lido na semana passada o psicólogo social, George Herbert Mead, tive que estabelecer um contato intersubjetivo com aquela criança (que ali representava o mundo inteiro). Minha senhorita, ocupada em dirigir seu carro, disse que havia uns biscoitos no carro, e me pediu para pegá-los no porta luvas e dar para o menino. Enquanto abria o vidro, procurava os tais biscoitos no porta luvas, mas não os encontrava. Pedi para a criança esperar um pouco e, enquanto ela esperava e olhava pra dentro do carro, eu continuava procurando, revirando a enorme pilha de cds de dentro do porta-luva.
O menininho, sem me avisar nada, (qualquer coisa, que possibilitaria então uma resposta mais bonita de minha pessoa, e que talvez entrasse até no capítulo 7 de minha autobiografia) falou assim simplesmente: “Me dá um CD...?”
E eu que procurava lhe dar comida não entendi que ele também queria diversão e arte.
Ah... criança que perigo pode ser você com aquele disco da Nina Simone. Não faça isso, continue, por favor, a comer biscoitos. Lembrei-me que o Sergio Porto certa vez encontrou com o Cartola lavando carros, quando de fato o Cartola, já era Cartola. Quando foi confrontado com aquilo que para Serio Porto, seria um paradoxo, um artista daquele estatuto lavando um carro, o músico respondeu ao humorista que ele também precisava comer. Porto pegou o Cartola e naquele mesmo momento o levou para gravar um disco.
Seria aquela criança um cartola, e eu um mau Sérgio Porto?
Na verdade eu acabei dando o biscoito para a criança, até porque, de boca cheia ela ficaria calada.
E nós naquela incrível célula auto-suficiente, nos vimos frente a frente com o mundo, isso porque os vidros, infelizmente, ainda permitem duplo contato visual. E a criança colou seu rosto feio e sujo, no meu vidro, e eu que havia lido na semana passada o psicólogo social, George Herbert Mead, tive que estabelecer um contato intersubjetivo com aquela criança (que ali representava o mundo inteiro). Minha senhorita, ocupada em dirigir seu carro, disse que havia uns biscoitos no carro, e me pediu para pegá-los no porta luvas e dar para o menino. Enquanto abria o vidro, procurava os tais biscoitos no porta luvas, mas não os encontrava. Pedi para a criança esperar um pouco e, enquanto ela esperava e olhava pra dentro do carro, eu continuava procurando, revirando a enorme pilha de cds de dentro do porta-luva.
O menininho, sem me avisar nada, (qualquer coisa, que possibilitaria então uma resposta mais bonita de minha pessoa, e que talvez entrasse até no capítulo 7 de minha autobiografia) falou assim simplesmente: “Me dá um CD...?”
E eu que procurava lhe dar comida não entendi que ele também queria diversão e arte.
Ah... criança que perigo pode ser você com aquele disco da Nina Simone. Não faça isso, continue, por favor, a comer biscoitos. Lembrei-me que o Sergio Porto certa vez encontrou com o Cartola lavando carros, quando de fato o Cartola, já era Cartola. Quando foi confrontado com aquilo que para Serio Porto, seria um paradoxo, um artista daquele estatuto lavando um carro, o músico respondeu ao humorista que ele também precisava comer. Porto pegou o Cartola e naquele mesmo momento o levou para gravar um disco.
Seria aquela criança um cartola, e eu um mau Sérgio Porto?
Na verdade eu acabei dando o biscoito para a criança, até porque, de boca cheia ela ficaria calada.
2 comments:
É difícil conciliar salvação do mundo com nossa vida. Quando a gente opta por entrar na guerra (A opção), a que vc se referiu no post posterior, envolve perdoar-se por pequenas outras coisas não feitas (o cd não dado).
Mas eu ainda não entendo o que é optar. Eu ainda não sei qual é o espaço da política possível de ser ocupado. E tb não entreagria o cd.
Difícil viver aqui.
quando vc diz Aqui...
vc diz num blog? (:))
A opção de entrar na guerra acho envolver nem pensar nisso e talver dar o cd quando o menino pedir...(apesar do quê não era um cd meu)..
É legal quando vc escreve conciliar a salvação do mundo com a nossa vida, pq de fato, é o que muitas vezes queremos fazer.. Continuar burgueses, sentando na sala grande e vendo dvd, e acabar com a fome, o preconceito, a violencia. (ABRACADABRA)
Mas Nós (eu e vc) vamos constituir a fila dos "tecnicos sociais" que devem dizer o que é melhor sobre os programas, os projetos sociais (a vida das pessoas) as formas de intervir na sociedade...acho que aí, nesse momento, teremos que marcar nosso lugar na politica. Acho que o cd não é uma pequena opção descontada, mas sim a escolha q permite dizer que eu não fiz a opção, pois ela nao é uma opção, no sentido que eu escolho uma mousse de chocolate ao invés de um petit gateau! é a opção! ai ai, mas é dificil viver, alguem disse que era fácil ,mas não é!
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