Sunday, June 01, 2008

Ruminescrências Estudantis I

Já moro no Rio há 2 meses, o que se é pouco tempo de fato, é tempo suficiente para me lembrar que eu realmente morarei aqui por dois anos, e não estou apenas passeando. Lembrança necessária. E aqui volta e meia, em todo lugar, frente a qualquer situação, tem hora que digo assim: "Porque lá em minas/Belorizonte/ufmg/fafich/casadamamãe", lembrando sempre de alguma coisa que foi importante para minha constituição ludopédica-sexo-moral-etílica. E isso me faz perceber que sim, eu estive vivo nesse tempo todo que morei em Belorizonte, e sim, fiz coisas interessantes, mesmo que não quisesse muito...


E é dessas coisas que vou falar. Mais especificamente das coisas que fiz ou aprendi como “Acadêmico da Grande BH”. Essas coisas que deveriam ser chatas, mas não são e que de alguma forma dão substância ao meu passado, para além das amizades, do samba, das 10.000 mulheres sonhadas, dos devaneios, dos inúmeros campeonatos mineiros do GaloForteVingador, da cerveja, do 129 gols marcados e 19 canetas na minha brilhante carreira pelas quadras de “cimento batido” nos recreios de Balão Vermelho e Santa Doróteia.

As pessoas que não vivem em determinado lugar tem, em geral, um medo errado encrustrado nas suas fantasias desse lugar. Por exemplo, o rio de janeiro. Quando dizia para pessoas com mais de 40 outonos que estava de partida para o Rio, todas diziam que eu ia morrer. Que aqui é perigoso e eu ia ser morto enforcado pelas minhas tripas num sinal de trânsito. De fato aqui é muito perigoso mesmo. Mas um dos maiores perigos da cidade é andar ou não de ônibus. Não tem solução. Porque se você tiver dentro deles pode acontecer igual aconteceu no mês passado com um ônibus que capotou na Barra da Tijuca, e um rapaz morrreu (sim, morreu). Ou se você estiver do lado de fora e for atravessar uma avenida com o sinal fechado, você acaba sendo atropelado. Por um lado ou pelo outro (sim, os ônibus aqui furam o sinal fechado pela contramão).

Os motoristas de ônibus desrespeitam sistematicamente os sinais de trânsito e não há em absoluto norma ou regra para eles. Tipo limite de velocidade, parar no ponto de onibus, ou qualquer outra coisa. Nos ultimo semestre da minha graduação em psicologia na UFMG, fiz um estágio que pesquisava as condições de trabalho de motoristas de determinada empresa de ônibus da região metropolitana de BH. A parte mais interessante desse estágio era que acompanhávamos os motoristas durante uma ou duas viagens por semana. Aí observávamos como estes realizam seu trabalho. O problema para a empresa era que os motoristas apresentavam muitos distúrbios mentais, e em especial, depressão. A proposta da psicologia da atividade, e da professora Beth Antunes, era que acompanhássemos a realização da atividade pelo trabalhador, buscando com isso compreender como o sujeito se relaciona com aquela atividade, quais são as dificuldades, assim como as estratégias que o trabalhador constrói para lidar com isso tudo do cotidiano. Seria uma comparação interessante, estudar as condições dos trabalhadores daqui do rio e daí de minas. Porque por aqui eles parecem muito mais libertos de regras formais, do que em Minas. Mas nos dois lugares (porque se tem uma coisa que não muda é a merda do capitalismo) todos têm que fazer os trechos num tempo x, mesmo que haja y acidentes e pedras no caminho. Com a variável y muito variável. A diferença é que aqui o caras podem ultrapassar, andar a 120, furar sinal e o que mais a criatividade malandra bolar. Enquanto em BH, os motoristas têm que andar a 60, e respeitar as regras de trânsito. O ‘must’ por aqui são os ônibus sem trocador, no qual o motô, tem que passar a segunda, dar o troco de uma nota de 20 para uma passagem de 2,25, e ainda calcular se furando o sinal não vai atropelar ninguém, enquanto masca a morena que adentra o busão. Isso sim é malabarismo. Haja brasileiridade, jeitinho... E se eu fizesse isso tudo também teria orgulho de ser brasileiro, o que eu não tenho.

5 comments:

Prós said...

Loucura!

Já do ponto de vista do europeu, o motorista de BH é como o motorista carioca, para o mineiro.

A única diferença é que aqui as "corridas" são realmente humanamente calculadas. Os caras provavelmente calculam o trajeto para o motorista com uma folga suficiente para que ele não precise -- absolutamente -- correr. Muito pelo contrário (as vezes eu pedalando vou mais rápido que o ônibus). Eu disse às vezes...

E o motô ainda tem um tempinho pra chegar no ponto final e fumar um caretinha antes da próxima viagem. Mas é verdade, as vezes ele tem que fumar um pouco apressado...

[]s!

Rafa Pros said...

é acho que aí os trabalhadores conseguiram garantir mais direitos e tal..mas aqui é osso.
Fui pra goiania e lá os motoristas são velhos jedis. Calmos e iluminados...hehe
Chico, passei por brasília e fiquei na casa do flavim. Foi bom demais. A noite ainda fomos num chorinho lá, seu pai foi, o biziu, q tb tá morando lá.. Foi fino...abraço, e ve se liga aqui!!!

veevee said...

o trânsito aí é from hell. e olha que to em sp. mas qdo falo do trânsito quero falar dos motoristas mesmo. nunca NUNCA tive tanto pavor e irc de motoristas mal educados e sem qq respeito às leis de trânsito como no rio. ninguém aí fica no seu quadrado. =/

Rafa Pros said...

aqui é osso mesmo vivi..
é bizarro. As vezes eu paro e falo "não é possivel".
o problema é exatamente esse, todo mundo acha que o seu quadrado aqui é do tamanho da cidade...

Locadora do Werneck said...

Que carioca é forgado todo mundo tá cansado de saber. Agora, se os motoristas europeus fumam um careta entre as viagens, me pergunto se os holandeses são menos stressados que seus colegas alemães ou franceses. Seria esse o segredo dos motoristas goianos? Qual é a taxa de depressão entre os motoristas de ônibus de Cabrobó?