Thursday, December 28, 2006

ARGUMENTO

A discussão entre o que diferencia “ciência de verdade”, mito, religião, pseudociência, ciências humanas, e o escambau, sempre me interessou profundamente. Ao longo de minha vida esse interesse ressurge e é declinado por razões, motivos e interesses diversos. Isso desde quando ainda sonhava em ser um físico charmoso de óculos, descobridor dos segredos finais do universo (assim como das mulheres). Lia Sagan convencido de que nunca haveria um dragão invisível, a-térmico e imaterial na minha garagem. E convencia-me de que saber da inexistência inexorável do tal dragão era importante e me protegia da farsa e da enganação. Havia o mito e a religião a serem combatidas. E a briga era essa. Ou se explicava o mundo de forma mítica ou de forma cientifica. Eu achava fantástico isso tudo e interessava-me por todos esses grandes divulgadores da ciência.

Na física não fui nem mesmo um sopro. A mudança pensada, ainda em tempo de colégio, para a psicologia procedeu-se em apenas 6 meses. Havia tanto fetiche em querer ser físico que sobrava pouco interesse em debruçar a vida inteira sobre dados insossos, vazios, elementares, buscando explicação da natureza das coisas. No meu narcisismo (palavra que aprenderia mais tarde) não conseguia me ver como um encadeamento de coisas que aconteceriam mesmo se eu não existisse. Havia um idealismo além da “minha” conta em achar que EU contribuiria para o progresso da ciência. Meu egoísmo, particularismo, imediatismo e holismo me impediram de seguir esse caminho; assim como minha preguiça mental, minha burrice, meu desânimo. Desistindo de estudar átomos, resolvi tornar-me um. Sem nem mesmo saber o que fazia entrei para o curso de psicologia, e de lá para a pesquisa social foi um pulo. O interesse cientifico na organização da sociedade aconteceu sem nem mesmo saber o que fazia. Uma paixão mesmo talvez. Portanto, desde o inicio do meu curso me dedico ao estudo de processos psicossociais, e me inscrevo dentre daqueles que trabalham com ciências humanas. Nunca fiz análise ou terapia, nem nunca trabalhei com isso. Leio Cyro dos Anjos e Rubem Braga convivendo e sofrendo com meus porões e suas coisas pobres e sujas. Minhas mentiras guardadas e a covardia dos gestos amarelados em lembranças.

Mas agora a ponta que retorna da eterna discussão é a relação entre as ciências humanas e as ciências naturais. Continuo debatendo isso principalmente com o Chico, com a feliz interlocução de um ou outro (Gabriela, Rodrigo, Thiago). E quando disse para umas amigas psicanalistas, que andava discutindo essas coisas com meus amigos “cientistas de verdade”, elas ainda me fizeram troça e perguntaram o que eu ainda queria com essa discussão, deixando claro que seria essa uma questão sem fim e sem ponto de discussão. Bom, elas não disseram nessas palavras, mas creio que era isso que queriam dizer. E aí parei para pensar no porquê de todo esse barulho. Afinal está tudo certo. Os cientistas naturais pensam que a gente faz filosofia, má literatura ou somos uns revolucionários frustrados; e nós pensamos que eles são uns alienados, escravos da linha de produção taylorista-fordista do pensamento, ou ainda que cansados de matar Deus (que já perdeu toda a graça) resolveram também matar o sujeito, o ser humano e proclamar a cegueira do relojoeiro, da máquina da vida ou da dança do universo, e porque não também da sociedade. A sociedade com leis naturais não dependeria nem de psicólogos ou sociólogos e sim de físicos, biólogos e matemáticos. Não concordo com nada disso. E pensando, portanto, no porquê de toda essa discussão, cheguei à conclusão que eu me embrenhava nessa briga menos para provar porque as ciências sociais são indispensáveis e fundamentais para o conhecimento humano, e mais para compreender melhor meu objeto de estudo. Também para combater a leva de cientistas naturais que cansados de suas perspectivas atomísticas e minimalistas se colocam a transpor de um nível do conhecimento para o outro em salto, sem pensar nas mediações e interações que diferenciam sociedade de individuo. Como alguns físicos que querem demonstrar a indissociável ligação entre as “novas” descobertas da mecânica quântica às questões da existência e experiência humana, assim como os psicólogos evolucionistas que querem explicar porque o homem “pula a cerca” unicamente devido ao maior ou menor investimento parental; ou mesmo quando Sr. Dawkins procura mostrar que as idéias pulam de cabeça em cabeça da mesma forma que os genes se propagam na natureza. Todas essas teorias toscamente esboçadas aqui, partem do principio de que descobertas num nível elementar, subatômico ou biológico se aplicam 1 a 1 ao ser humano e à sociedade. Como se as respostas as perguntas da sociedade fossem essas que eles querem nos dar. Nós queremos menos descobrir se há ou não um gene da homossexualidade e mais porque investimos tanto dinheiro e tempo em descobrir um gene da homossexualidade. Pensamos que a saúde da sociedade depende mais de nos havermos com o preconceito e a discriminação, do que com a determinação da homossexualidade. Que haja uma determinação genética é algo que não negamos ou rechaçamos como explicação causal. Compreendemos dentro de um feixe de considerações. Mas não é essa a pergunta que fazemos. Perguntamos porque o homossexual incomoda tanto a sociedade, os valores, a “ética”.

Penso que é porque o objeto de estudo das ciências humanas não se encontra, para os “cientistas de verdade”, claramente demonstrado que eles persistem na posição de considerar que há um substrato natural (no sentido de estrutura) que determinar formas de ser, e que a cultura (ou a sociedade) entra como algo de menor valor nessa equação. Fieis aos princípios da universalidade e da homogeneidade, resolvem o problema do particular, não como um problema, mas como uma exceção extirpada, ou como uma questão de resíduo estatístico.

Então o melhor motivo que tenho para continuar nessa discussão por mais que ela me canse por vezes, é a possibilidade de repensar, reconstruir o nosso objeto de estudo e demonstrá-lo de maneira mais clara. E no nosso caminho, sobressaltam diversos adversários. Não mais aqueles que se dividem em “cientistas” e “religiosos”. O que carece demonstrar é que o que estudamos (o fenômeno social) possui características que não podem ser reduzidos a elementos físico-quimico-biológicos. E é claro que nem míticos ou religiosos. Essa demonstração não deve, por outro lado, ter um caráter exclusivista e “corporativo” de que não há influência de elementos biológicos, físicos ou químicos. Uma mulher bonita continua sendo preterida (em maior parte dos lugares) a uma feia (por mais que pense que isso seja construído socialmente), e as drogas continuam a afetar o nosso corpo e seus receptores neuroquímicos.

O que reforçamos é o caráter de reflexividade e interação que constituem o ser humano, e que esse processo (interação e reflexividade) criam forma de determinação não previstas anteriormente ao próprio processo. Não previstas nem pela fisiologia, nem pela química, nem pela física. Nesse sentido as ciências humanas e sociais não podem prescindir do sentido (significado), nem da história tal qual as outras ciências fazem. Excluir o sentido da compreensão da sociedade é buscar compreender a sociedade como abstração. É ainda concluir que a sociedade é nada mais do que a soma das partes. Que compreendendo a parte se compreende o todo. Que a parte é constituída de maneira homogênea, dependendo portanto de uma constituição natural. O ser humano é natural, a sociedade é feita de seres naturais, logo a sociedade pode ser compreendida entendendo a natureza dos seres vivos. Essa resposta resolve algumas pedras no sapato no caminho do cientificismo: o antropocentrismo, o particularismo, a história, a contingência. É por isso que todos os dias rezo e agradeço a existência da antropologia. Haverá sempre uma tribo numa ilha de nome impronunciável no Pacifico a mudar nossa perspectiva.

Um átomo não representa o mundo. Uma criança sim, de que forma hoje e há 100 anos atrás cabe pesquisar e conhecer. Se a televisão mudou a linguagem das pessoas, a forma como elas interagem (ou então a Internet) não há como estabelecer apriori, sem se levar em conta como as pessoas reais reagiram à televisão ou a Internet. E obviamente vão se misturar, aos pesquisadores que querem de fato compreender como a Internet influenciou a linguagem das pessoas, outros pesquisadores que querem demonstrar como a Internet empobreceu a linguagem, e outros, bancados pelo GOOGLE, que querem deixar claro como a Internet facilitou o intercambio cultural e aumentou a solidariedade entre as pessoas. E o desafio que os “cientistas de verdade” nos fazem, nos leva a necessidade de demonstrar, por exemplo, nesse caso o que é ciência social e o que não é. O que é marketing e o que é ação política. Isso é uma das coisas que me fazem continuar a interessar por essa discussão. Precisamos compreender melhor nosso próprio objeto de pesquisa e suas relações com outros sistemas de ação humanos, arte, política, cultura, ciência. Mas não podemos como eles fazem simplesmente dizer, “olha isso aqui é ciência e ponto final, não tem nada de social não”. Não é possível, pois estamos emaranhados a sociedade e à política. E a pior forma de fazer ciência social é dizer que essa relação não existe. Não andamos nem mexemos com fatos ou coisas. A ciência social ao dizer e buscar compreender relações sociais cavalga pelo duplo caminho da ciência (no sentido de ampliação do conhecimentos) e da política (no sentido de interferir nas relações sociais).

Nesse sentido discutir com os “cientistas de verdade” continua ajudando. Eles têm a clareza do que estudam e dos processos que realizam. Afinal, as coisas continuam mais distinguíveis num laboratório. Eles não se preocupam em cada movimento, em cada instante, das conseqüências sociais e políticas dos seus atos. Eles podem blindar sua alienação com o ideal da ciência. Da busca da verdade. E a nossa alienação (dos cientistas humanos) é parte da nossa ciência. Quando vamos estudar os “pobres, feios e sujos”, carregamos nosso olhar e é ele primeiro que temos que compreender e analisar. Imaginem um físico pensando se estaria sendo preconceituoso em lidar com aquele glúon? Ou se a ação do fóton estaria sendo alterada pela minha roupa?

Nós, das ciências humanas, somos meros átomos, estudando átomos. E é isso que nos interessa, como os átomos interagem. O que determina ou não a ação de um átomo. Só que os átomos pensam, interagem e refletem. Não somos deuses olhando formigas. Somos formigas compreendendo a vida de formigas.

7 comments:

Rodrigo said...

"Fieis aos princípios da universalidade e da homogeneidade, resolvem o problema do particular, não como um problema, mas como uma exceção extirpada, ou como uma questão de resíduo estatístico."

Realmente, somos podres, nós, os "cientistas de verdade". Mas creio que nossa ciência reducionista é uma tentativa profunda de chegar a algum lugar. Acreditamos que é melhor do que cogitar diversos pensadores ao longo dos séculos, cada qual com seu nível de sorte associada ao chute, cada um passando mais de raspão que o outro.

Claro que o humano é o que mais cai no paradoxo da física quântica, do observador influenciando seu objeto de estudo. Mas essa nossa discussão toda sempre teve por base a incapacidade de muitos cientistas sociais de entender os fundamentos da biologia, coisa impensável para um biólogo (ignorar a química e a física) ou para um químico (ignorar a física) ou para um físico (ignorar a matemática).

Matemática > Física > Química > Biologia > Seres humanos. Assim vejo a "hierarquia" das ciências.

Beleza, vocês distinguem, fortalecem, favorecem, preferem, as diferenças, nós, biólogos, as semelhanças, vocês tratam seres humanos como coisas únicas, nós, como exceções a regras, mas nada disso adianta enquanto não tivermos propostas concretas para os problemas que surgem todo dia. Por isso desisti (ou nem tanto) dessa discussão, se for só pra ficar na mesa de bar.

Onde queremos chegar?

Rafa Pros said...

Nao acho que a ciencia possa partir da excecao, ou que o metodo cientifico deva ser descartado ou algo do genero, como pode parecer a partir da sua primeira colocacao..Muito menos penso que os cientistas de verdade sao podres ou algo do genero. Usei a ironia do "de verdade" pq eu me considero um cientista (e nao um padre ou um artista) apesar disso nao ser uma questao de orgulho pessoal (do tipo "eu tb sou bacana, tb sou cientista") e sim uma constatacao do que faco ou procuro. Compreender como as coisas do mundo funcionam..simplificar, analisar e buscar mediacoes e correelacoes...mas nao sou "cientista de verdade" pq acho que as ciencias humanas colocam muito mais farinha nesse bolo do que essa sua hierarquia das ciencias presume...Se depois de biologia vc colocasse "ser humano" no singular ate seria mais crivel, mas no plural acho dificil.
O que coloco nesse meio seria o sentido, o simbolo...as construcoes sociais. Os homens bombas continuam se explodindo no oriente medio, apesar de todos os seus "egoismos", e dizer, apenas, que a religiao e um virus que aparece no sujeito, pra mim e muito pouco, e nao so pouco mas tb obscurecedor... ja que ter religiao e se explodir sao coisas completamente diferentes...se nao viram, acho que deviam ver por exemplo o filme "paradise now"...

para minha ignorancia sempre pensei a psicologia dentro de duas areas...das ciencias de verdade por um lado...e da organizacao social. Ou seja de um lado os neurocientistas e afins...e de outro lado os psicologos sociais e tambem afins...(apesar de ser uma divisao tola e fragil de partida ... ja q a psicologia clinica, por exemplo, fica sem muito lugar).
o primeiro grupo entrar certinho no seu esquema de ciencia. Compreende o ser humano a partir de fisica quimica bioologia. O segundo grupo se interessa por como os sujeitos vivem experienciam e modelam suas sociedades. Dentro disso, interessa muito mais, a historia, a geografia humana, a filosofia, a politica. Que nao sao ciencias sem resto. Sao compeeensaos que dizem algo sobre alguma coisa, mas que nao conseguem predeterminar com rigor sequencias de fatos. podemos pensar que conhecendo a nossa sociedade, vivendo numa cidade como o rio de janeiro onde aparece umam crise de violencia, as pessoas vao reagir de tal e tal forma. Vao, ao inves de se indignar com o que e obvio, a discrepancia sensvivel entre como vive um ser humano (burgues) e outro ser humano (pre-revolucao francesa, que convive entre ratos, e restos) vao achar que o que falta e policiamento. Mas pode ser que as pessoas ajam de forma diferente. E elas vao estar certas e nos errados. Nossos objetos de pesquisa mudam de ideia com muita frequencia, e nossa resposta final dependera so da nossa miopia. Pq pensar que dentro de 10 milhoes de pessoas, todas pensam de uma forma sobre o problema de violencia, ja e miopia demais. tem gente, que quer mais grupos de exterminio, LBV, ajuda social, entrada do exercito, mais policia, menos corrupcao, mais metralhadoras e bombardeio as favelas, mais espaco publico para discussao, menos hipocrisia. O que a gente vai tentar entender e pq a pessoa quer mais grupos de exterminio por exemplo...o que isso signfica. Quem deve ser exterminado...
E isso que queremos chegar, compreender como isso acontece, e como podemos criar formas de que isso nao aconteca dessa forma.
Nao creio que nos favorecemos a diferenca. Nos queremos entender pq ali onde um ser humano, deveria ser igual a outro ser humano, surge uma diferenca que nao e apenas uma diferenca, no sentido de que eu sou diferente de vc, e sim de que eu sou melhor que vc, e vc sendo pior eu posso te tratar pior.. Nisso se vc atropela um morador de rua, ou se atropela uma pessoa (que chamamos nao sem ironia) "normal", acabam sendo coisas completamente diferentes.
Eu nao sei onde vc quer chegar. Como insisto no texto essa discussao e boa pra mim menos para acusar e xingar e mais pra tentar demonstrar meu objeto. Menos pra defender meu sitio, e mais pra que os cientistas naturais que se interessarem pela compreensao da sociedade, possam partir da historia do sentido. da moral. Pq nao se engane a ciencia humana ela deixa de ser moral quando ela passa a ser imoral, e nao amoral. Quando ela nao se questiona as implicacoes disso que vc quer entender. Fazer uma "genealogia da moral" portanto e descobrir o moralista que ha dentro de cada nos e algo que nao podemos prescindir a toda hora de proceder.

Rodrigo said...

Bem, discordo que a biologia entra só na parte neurofisiológica do cérebro. Experimente ler um livro sobre comportamento de chimpanzés (Jane Goodall foi a maior estudiosa deles), e também um sobre os fundamentos da etologia, que é o estudo comparativo do comportamento, e você vai ver que o lado social está cheio de insights que podemos extrair dos outros animais.

É tipo uma teoria aí das ciências humanas, que parte do pressuposto do homem sem hierarquia, como se fosse esse o estado "primitivo" da humanidade. A hierarquia é totalmente biológica, então de que serve essa teoria?

A história, a geografia humana, a filosofia, a politica, todas são humanas, e se constróem "sobre" a biologia, naquele meu paradigma. Tipo, a história sempre se repete, mas podia não ser assim. Por que é assim? O que, então, mudar, para deixar de repetir os erros? O que não adianta tentar mudar? Ou, qual caminho é mais fácil para fazer as mudanças, qual promete resultados mais duradouros? Várias correntes sociais (comunismo, por exemplo) fracassaram por negar instintos básicos do homem (no caso, a mesma falta de interesse de cuidar do que é de todos, observado no serviço público e nas repúblicas de estudantes), que hoje são claros, pelo menos pra nós, biólogos.

Então, se o cara da rua quer exterminar os favelados, tem n formas da gente entender isso, partindo de vários pressupostos diferentes. Meu ponto é que os pressupostos que já foram testados na biologia de outras espécies, aqueles que a gente tem alguma segurança de poder aplicar na nossa espécie, são muito melhores do que os pressupostos que a gente aprendeu que não se aplicam à nossa espécie. E (a maioria dos) cientistas humanos ficam discutindo a partir de todos eles, sem fazer essa distinção, e perdendo muito tempo.

Claro, o sentido, a moral, faz parte demais da resposta, não os nego. Só queria abrir os olhos dos humanistas que converso, que o ser humano é bem mais previsível do que eles costumam achar.

Beleza, espero ter sido mais claro.

Abraço.

Anonymous said...

bom. achei seu texto uma grande bobagem e os seus amigos "cientistas de verdade" parecem se resumir a francisco prosdocimi. A sua namorada nem merece ser citada fora do parentese, juntamente com os outros que nao sao escutados. entendi que aqui vc tem um mundo seu, do qual realmente nao faco parte. vi que as nossas discussoes sao perda de tempo e que no fundo voce so quer confirmar o que ja pensa a respeiro dos cientistas naturais. tambem vi que voce nao tem o minimo respeito pelo que falo e que realmente nao me escuta pois nao devo ser brilhante como seu primo, o unico que mereceu sair do parentese e tambem o unico cujas opinioes e pensamentos forma expressos nesse texta interminavel e confuso. fiquei ainda frustrada de saber que vc sequer acha interessante me mandar os textos que voce escreve e vi que tem grande parte de voce a que ainda sou negada acesso particular. ou isso ou voce esta tentando escrever bonito sem pensar no que realmente suas palavras siginificam. desculpe a franqueza mas realmente fiquei puta lendo esse texto.

Rafa Pros said...

Rodrigo: Nós teríamos um curso de etologia nesse ultimo semestre, la na fafich, mas o professor foi afastado... o que significa que existe gente trabalhando na psicologia na linha que vc aponta sim. E não tenho nenhuma dúvida de que sou um animal, e logo realizo ações dignas de um animal. Mas se a civilização não "desanimalizou" o ser humano, e não o fez, estou mais interessado no que de fato fez a sociedade, a civilização e menos no que há de similitude entre eu e o chimpanzé ou um sujeito de 1 milhão de anos atrás. O que não significa que não acho importante entender o ser humano, a partir dessa matriz etologica. Mas só que penso mais a mudança, o ponto fora da curva de gauss, a possibilidade de ser diferente do que o que garante a continuidade... De alguma forma, concordo com vc que nisso há algo de perfeitamente não cientifico, que é uma aposta no ser humano, na compreensão de que o ser humano não se faz na repetição, mas em algo inaugural, que garante a mudança, e que a história, portanto nao vem sendo repetição. Hannah Arendt chama isso de ação...um inicio no mundo, algo que (ironicamente) é representado pela ciencia e pela arte. A abertura de uma possibilidade que não estava colocada. O capitalismo seria exatamente o contrario, pura repetição, ou seja produção atrás de produção...Tecnologia a mesma coisa.
Se vamos compreender o comportamento sexual dos mamchos do homo sapiens sapiens a partir do investimento parental, ou se vamos pensar em termos de compartilhamente simbólico ("o macho que é macho come todas as mulheres")..existe uma grande diferença. No primeiro caso não há sujeito e o sujeito está livre e pode ir pra casa. No segundo não. O sujeito compartilha e assimila a informação e nisso ele tem parte, pq ele não é alheio ao seu meio(mas aí surge a questão, nem alheio a sua natureza). Mas a aposta é a de que há sujeito. Então se fosse uma pergunta de multipla escolha das duas apostas acima, eu ficaria com a segunda, apesar de saber que ela também está errada. Concordo que a ciencia seja estranha ao sujeito(ninguem pergunta o humor de uma fita de DNA, ou sua religião). Mas a ciencia humana ao invés de matar o sujeito deve ser capaz de lidar com suas complexidades Filogeneticas e ontogeneticas, sociais e culturais. E essa critica que vcs fazem é muito positiva sim e deveria ser levada a frente. O problema que sinto é que no fundo dessa critica de vcs (a do reducionismo cultural) se faz presente o outro lado (o reducionismo biologico-natural), pois acho que os cientistas naturais não aceitariam os milhões de "pode ser" que a cultura proporciona. E nos temos que aceitar pq em ultima instancia as pessoas que fazem as coisas, falam que fizeram isso por causa dos pode ser...
A parte da hierarquia, não entendi o que vc quis dizer...
"Tipo, a história sempre se repete, mas podia não ser assim. Por que é assim?" Achar que a história se repete é igual aquele história da borboleta em cima da arvore que fala que a arvore tá parada e que portanto ela nao tem vida...
A história não se repete, e o século XX é ótimo para perceber isso...viradas e contraviradas...em tempos de democracia e liberalismo vem o fascismo, em tempos de "fim da história", fim do comunismo, vitória do capitalismo, vem os talibãs o 11 de setembro e tal...
E acho que talvez sem fazer de propósito vc faz o que acho o mais perigoso de tudo que há quando penso na ciencias naturais colonizando a compreensão da sociedade. Quando diz que o comunismo nega o "egoísmo" (sendo este o instinto mais básico de qualquer organismo) implicitamente se afirma que o capitalismo não o faz, então, do ponto de vista "estritamente" biológico o capitalismo é melhor que o comunismo. Como se capitalismo estivesse na mesma relação de organização que o funcionamento de uma colonia de fungos...

Mas concordo em numemo e degrau que o ser humano é muito mais previsivel do que nós pensamos.
falô
rafa
Gabriela: Linda, primeiro, apelou perdeu... Bom, concordo que o texto é confuso, pq isso pra mim é confuso, e por isso insisto em escrever e discutir, se fosse claro eu não falaria nada e nem escreveria. Vc faz parte indissociável de minhas argumentações e sabe disso. Os cientistas naturais não existem como uma comunidade fechada e disso tenho certeza (apesar que vcs não.)Pululam idéia completamente diferentes. Inclusive acho que a idéia de sistemas complexos, de compreender as diferentes formas do sujeito se comportar dentro de um sistema (pensando esse sujeito como um ponto) seria algo extremamente valioso se tivessemos fisicos e cientistas sociais envolvidos e sensiveis (no sentido de perceberem) as delicadas relações que o individuo desenvolve com o mundo, as determinações de um dado lugar, e ao mesmo tempo as possibilidades matemáticas dessa compreensão.
Não escrevi bonito sem pensar no que minha palavras significam e vc sabe disso. Vc como é dá pouco valor ao público e muito ao privado (caracteristica de nossa época, mas estranha por exemplo a ciencia e politica) eu dou muito valor(mas muito mesmo) ao que digo e remete ao espaço publico (mesmo que não seja tão publico assim, já que mais de 60% dos brasileiros nunca entrou na internet)... A sua franqueza nunca precisará ser desculpada. Mas fiquei chateado que vc não me entenda. O acesso não é particular a ninguem e vc sabe disso. Até pq não acho que nada do que escrevi lhe seja estranho. O meu ponto de vista, se refere a uma perspectiva das ciencias naturais que busca colonizar, invadir e linchar nós os hippies e faficheiros. E busca explicitar os argumentos das ciencias naturais, assim como os principios que regem as nossas pesquisas.
rafa

Rodrigo said...

Bem, acho que o humano se repete, sim. E acho ainda que somos 99% repetição e 1% inovação. Entender a inovação me parece mais fácil do que entender a repetição.

Imagine um programa de computador. Em algum ponto do desenvolvimento do software, lá pela versão 189.2, há uma mudança: a aquisição de glote, epiglote, linguagem estruturada, gramática, sintaxe, semântica, etc. Ainda assim, isso é uma mudança pequena, 1% do software.

Entender o software, entender o humano, é depurar milhões, trilhões de linhas de código, a maioria das quais foi escrita quando a gente era ou bactéria, ou peixe, ou rastejava na lama, ou pulava de galho em galho.

Vocês é que desproporcionalizam o tamanho da novidade.

(continua)

Rodrigo said...

Do capitalismo: Sim, acho que o capitalismo é muito mais natural do que o comunismo. Mas existem as propriedades emergentes, e das propriedades emergentes do capitalismo Fordista, uma delas é essa coisa aí que está nos fodendo a todos, então vamos ter que inventar outra teoria. Simples assim, sem especulações demais, sem má interpretação das teorias.