Tuesday, July 03, 2007

E a vida, (ela também tem sua loucura)

Escrever da vida é escrever do que penso, quero, faço, devia fazer, sou. O que movimenta minhas pupilas, me dá animo, tesão, profundo desespero, melancolia, angustia. Aquilo que salta de meus dedos. Aquilo que acho importante, mas as minhas fraquezas, as minhas coisas torpes e vazias ficam guardadas comigo e não vão para você. Acho feio compartilhar mesquinharias. A cada um a medida certa de seu sofrimento, conforme sua capacidade de lidar com ele.

O ser humano se desenvolve de uma maneira peculiar de uma forma ainda e sempre estranha. Porque lembro de uma aula da quarta série sobre como proceder para achar uma palavra no dicionário, não acho que isso possa ser facilmente deduzido por qualquer teoria psicológica. Palavra mais que importante é o contingente. O espacinho que pequeno cabe Deus, o amor, o mistério, o desconhecido, as vezes o acaso, o nada. Nenhum mistério. Devemos prestar mais atenção no contingente. As crianças se deixam levar pelo contingente e penso que é por isso que não concebemos como uma criança aprende. Estamos atados às finalidades da aprendizagem e esquecemos que a criança não. Ela ali sentada e se atém a qualquer coisa. Por isso insistem os professores, já constatando o fracasso em impedir que as crianças se distraiam, que por favor todos “prestem atenção”. Inútil. Na sala de aula, olhando pro professor, na frente, escrevendo no quadro 2+2, já se encontra presente todo o espaço possível para aprender algo da vida que não 2+2. Dessa forma, acho que o que se chama socialização deveria ser levado mais a sério, e mais à brincadeira, retomando o papel do contingente. Acredito que a democracia deixará de ser farsa quando poder fazer representar mesmo, sem fingir eliminar ou mascarar, os mecanismos de controle do mundo. Os poderes que regem as ações e locomoções dos seres humanos. Quando as pessoas num sentido geral e especifico se verem identificadas com aquilo que fazem. Mesmo que seja errado. Acredito que o mundo vai ser organizado de tal forma que logo isso aqui vai ser apenas filosofia ou literatura. Abstrações ingênuas de um rapaz que queria ser escritor sem ser. Se temos psicólogos que entendem da mente das pessoas, ou se temos cientistas sociais que entendem como será uma boa sociedade, então para quê cada um tomar conta da sua vida? Conta só a do psicanalista ou do sociólogo. E à vista, por favor. Creio em corpo, hormônio, genética, evolução. Creio num sentido filogenético de desenvolvimento da espécie, mas nada me dizem de particular e restrito. Imagem, pensamento, ação, discurso, seguem linhas mais prosaicas e contingentes. O que não significa que não devem ou merecem ser analisadas, mas de uma forma diferente do que se faz em relação ao necessário. Já que o contingente é contingente exatamente por não ser necessário, e não desenvolver nenhum tipo de relação imutável e eterna de causalidade. Acredito que a psicologia social deve se investigar a toda hora e depurar seus dois vícios, que dever ser até mais. Psicologismo e sociologismo. Individualismo e coletivismo. Dialética deve ser mais do que uma palavra difícil e de significado nebuloso. Não dá pra investigar as ações de um sujeito e depurá-lo de toda a sujeira. Ou seja, de tudo aquilo que o faz ser ele. O mal do mundo continua sendo a rotina, a massificação, a coisificação, o capitalismo e a burocracia, a indiferenciação que encarna em tudo e em todos, e ninguém nem mais se atina que isso aqui foi um jogo que começou, e logo pode parar. O pensamento continua não criando a realidade, mas a realidade cria muito pensamento, inclusive o pensamento de que pensamento cria realidade. Os abismos já profundos, não aumentam de altura, mas de largura. O fosso tem a mesma profundidade. Aumenta a distancia que nos separa dos outros e as formas de chegar ali. A ilusão da comunidade humana perpetua a idéia de que não há fosso nem separação. A burguesia ainda é burguesia e esperamos que a tal revolução de 1789 chegue também, porque sinto que ela se perdeu por aí. Talvez na Groenlândia.

3 comments:

Carol said...

"Quando as pessoas num sentido geral e especifico se verem identificadas com aquilo que fazem. Mesmo que seja errado." Agora entendi seu comentário do tráfico...

Talvez te incomode que alguns tomem a rédea da vida dos outros, forçando-os a uma escolha. Isso acontece. Mas a política e o tráfico são só 2 nomes pra mesma tutela. Eu acho. Porque não fui a campo ouvir ninguém e o mais próximo que cheguei do tráfico foi um cigarro de maconha... faculdade nos torna topetudos mesmo! Hahahaha
(Mas 2007 é o ano do contato-imediato, isso vai mudar).

Que bom que vc voltou a escrever!

Rafa Pros said...

o contato imediato é fundamental...
O que me incomodo mais mesmo nas nossas práticas (minhas e suas), dos psi-socio-logicos é essa distancia.
E o nietsche tem uma citação que acho muito foda, e que a gente tinha que pensar mais nela que é "nós psicólogo temos que ter muito cuidado com os primeiros movimentos, pq eles serão quase sempre 'bons'"... Nessa questão do tráfico o que me incomoda não é achar que o tráfico é ruim (o que eu tb acho é claro), mas situar a discussão nesse nivel, da moralidade.

Anonymous said...

não é isso que vc estava dizendo ontem...