É madrugada. Agora já é sábado, 18 de outubro, há tres horas e quarenta e cinco minutos. Acabei de chegar de uma salsa na Lapa. Foi interessante, reforçou em mim aquela estranheza chata de não sermos latino-americanos. Como nos ver naquelas pessoas com cara de índio. Acredito, felizmente que isso seja momentaneo, mas ainda me vejo com cara de caubói. Com todo o trabalho da fafich. Não digo essas coisas com ironia ou sarcasmo e sim com vergonha. Brasileiro tem uma relação fodida com o latino americano. com o indio.
Aqui sentado, esforço-me pra escrever mais e quem dera, melhor. A verdade é que pensei que escreveria melhor quando chegasse aqui, no rio. Como repetia atos de Braga, Sabino, Mendes Campos e etc, achava que as almas imortais desses mineiros-cariocas baixariam aleatoriamente em mim por passar pela baía de Guanabara olhando, ora pra esquerda, ora pra direita. A verdade é que ninguém veio. Fiquei sozinho. E o rio de guanabara, do pão de açucar se mostrou mais o rio dos mendigos, das crianças de rua. Dos pedintes sempre calmos ainda que na extrema necessidade. Não dá pra fazer poesia disso. Nunca tive tesão por filme de Zumbi, mas nos ultimos anos tenho achado muito interessante. Não precisa fazer mestrado pra pensar que os moradores de rua são os zumbis dessa cidade. Só falta ensiná-los a nos comer. Rastejam por aí, sujos matrapilhos, olhando pra baixo, fedendo. Dormem de dia, reviram os sacos a noite. Mas ainda não nos comem.
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3 comments:
Bom encontrar seu retrato no RJ por aqui!
Osso, hein!
Aqui no estrangeiro esta questão da salsa é ainda pior pq todo mundo pensa que brasileiro dança salsa naturalmente bem. Muitos pensam que falamos espanhol tbm e associam coisas deles a nós. E isso me faz ver como somos diferentes deles, ainda que aqui na Europa sempre nos coloquem no mesmo saco.
Quanto aos zumbis, isso vem de novo do problema de distribuição de renda. Na minha opinião, precisamos aumentar o assistencialismo... mas o brasileiro acha que isso é dar grana pra vagabundo à toa e prefere, ao contrário, continuar dando grana pra ladrão. Se tomássemos o dinheiro de um único desses grandes ladrões, poderíamos ajudar milhares desses zumbis que vc diz.
Mas os ladrões de hoje, deste ou daquele partido, serão amanhã -- amanhã mesmo -- prefeitos. A apuração dos votos não fará a menor diferença. Seria bom votar consciente... se houvessem opções conscientes. Que porra de democracia é essa?
Que porra de democracia é essa? Taí uma pergunta muita boa...
Quanto aos zumbis é claro que é uma metáfora um tanto forçada, já q eles são gente, pensam, trabalham, vivem enfim. Mas é triste sim, e dá desesperança a caminho de um chopp.
Imagino q todos sejamos ai latin-american, o q é interessante pq força uma identificação. Eu acho q a gente tem tudo a ver mesmo. Quando li o livro do vargas llosa sobre a ditarura no peru, era evidente q ele poderia estar falando do brasil, ou quando o mesmo escritor narra o que aconteceu em canudos é claro q ele tb se idenfitica com a historia nossa.
Concordo com vc quando a distribuição de renda, mas acho q talvez pensar a distribuição de renda como recurso. Pq tipo a classe media e alta se reproduz nas escolas, universidades, hospitais de qualidade etc... então acho q não é só renda são as possibilidades tb...
mas isso é um assunto compricado...
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