Thursday, November 17, 2005

Pais, uma fraude necessária

Quem me dera pretender, nessa noite de domingo, escrever um belo tratado sobre a paternidade, contemplando, entre outras coisas, questões que mexem naquele vespeiro que Sigmund Freud trouxe a luz. Quem dera entremeando todos esses complexos que envolvem investimentos libidinas, parentais, pudesse eu destrinchar um lindo arranjo argumentativo. Não. Direi eu apenas de algumas lembranças (não só as minhas) tristes, e vivas. Direi apenas de alguns pais frágeis, fracos e tolos, mas que são tudo para os pequenos.
Um homem é xingado e humilhados dia após dia, mas que volta pra casa sorri e conta um caso bonito pro filho, algo que por acaso teria ocorrido com ele no escritório, não fosse a vida real, não fosse ser ele apenas o faxineiro de tão prezado local. Ele conta um caso complexo de bem e de mal, uma ação justa, um bem realizado, algo no qual o narrador é o próprio herói, mas primeiro e antes espectador. Esse pai que depois de ver alguma situação de sofrimento de uma linda senhorita, no final a salva de um cafajeste imaginário.
E na cama, o filho deitado ouve aquilo tudo e dorme um sono lindo, no qual ele faz algo belo e justo. E no fim do dia, ainda sonhando, esse menino vai pra casa e se deita com uma mulher. E a vida é linda, os pais são fortes, nos defendem, e amanhã tem aula, talvez prova, de estudos sociais. Deveria ter prestado mais atenção nessas aulas.
Sei que o pai é fraco, volta pra cama, pensa naquelas contas e no jogo do botafogo, faz as conta e vê que talvez dê pra levar o menino no próximo domingo. Talvez, quem sabe.
Mas um dia o filho acorda e vê que o pai é um fodido, como quase todos.
O menino que já não é, vai descobrir onde o pai trabalha, o que ele faz, quanto ele ganha e tudo mais. Vai descobrir da infelicidade dê seus pais e das mentiras. Um dia de sofrimento.
Mas essa fraude, fraude aliás que é todo e qualquer pai. Todos, os broxas ou galinhas, e ricos ou podres, e pobres ou cobiçosos, cornos, vadios, viados e covardes, pelo menos em algum sentido são todos fraudes. E algum dia achamos que eles eram alguma coisa que não um pouco disso tudo aí para trás. E não só isso, é claro.
Talvez aí culpamos o pai e queríamos que ele pelo menos fosse diferente, honesto, e que nos contasse sobre sua vida tediosa e miserável, queríamos a verdade doesse a quem doesse; já agora percebemos o quão mentirosas são essas palavras. Hoje acho que esses pais são sempre necessários, é preciso em algum tempo crer nessas figuras, por mais que a desilusão venha e estraçalhe tudo e que isso doa. Lembro de meu pai e de como sentávamos em um bar e ele chorava. E de como isso nunca estava nos scripts de nenhum dos filmes que víamos. E ele ainda diria que nós não éramos filhos dele, mas sim filhos do mundo, da vida. E abria o peito e mostrava todas as feridas, muitas das quais eu nunca entenderei, nunca sentirei pra ele. E ele acabava com toda a farsa e aparecia, frágil e vivo. Mas sempre queremos os pais mortos e fortes, lembranças de homens corajosos, dispostos a tudo na vida. E é isso. Só se é ateu tendo acreditado com toda a força na existência de Deus.

8 comments:

Prós said...

É, uma viagem interessante a ser eternalizada em palavras, mas o esquema do ateu eu achei meio forte demais, apesar de que tem muito a ver!

Anonymous said...

Rafael. . . Simplesmente sonhei com a sua crônica...

Anonymous said...

Uai, mas como assim sonhou com a minha cronica. (essa cronica da fraude?)
Para repetir a primeira coisa que os psicanalistas aprendem:
"fale mais sobre isso" hehe
exprica mió...
rafael

Anonymous said...

Kramba. . . Pensei q n fosse ser preciso explicar. . . Lógico por causa do meu pai, da relação q tenho com ele e d um texto q escrevi q lembra o seu, so q no meu caso o futebol substitui o bar. . . Por isso sonhei com a crônica e com meu pai, vai ver até q vc esteve por lá... (Sem dar margem pra psicanálise selvagem...)Achei fraco o fale mais sobre isso. . . Bjnhos!!!

Rafa Pros said...

Ah tá..entendi. Mas é claro que vc esperava que eu pedisse uma explicação, né?
Gostaria de ver o seu texto, pode?
Rafael

Anonymous said...

Recordei d algo, acho q o sonho foi a fusão desta com a "Nossos Momentos", acho q foi isso. . . Qria q tivesse escrito isso antes d vc ler. . . foi rápido. Para a 1a pergunta, n, para a segunda, talvez. . .

Rafa Pros said...

"Nossos momentos", n~ entendi??? Esse n aposto q é s. E o talvez, parece que é charme... é só insistir mais um pouco. Certo?
E quem é vc?
ps: Algum problema com as vogais?
Rafael

Anonymous said...

Ai, Rafael, vc ta me dando trabalho...tem q explicar tudo! "Nossos momentos" é sua, de março, n lembra, q pai desnaturado...Tnto qnto vc. . . em relação às vogais. Seu blog agora virou sala de bate-papo? Corta isso ow...