Monday, November 07, 2005

Tréplica

Desculpa, mais uma vez pela demora Chico, mas você sabe que eu não sou muito disciplinado nem pontual, e também queria essa resposta natural e familiar, algo que faltou à outra. Eu estava deveras sóbrio, chato e sozinho. Continuo sozinho, mas agora levemente entorpecido, então tudo flui melhor e acabo ficando mais ousado, o que não é bom apenas na frente das fêmeas. Deixo que essa carta assim flua, alcoolizada, leve e se tudo correr bem, banal.
Quanto à ciência nunca duvidei dessa sua aorta cientifica pulsante, e sempre me deu um pouco de inveja desse seu amor, por isso já havia percebido, com um pouco de tristeza, esse seu lento desprendimento. Tem uma coisa que um italiano diz, Antonio Gramsci, que é que os cientistas se preocupam muito com descobrir coisas novas quando deveriam se preocupar também em divulgar melhor as suas descobertas, e divulgá-las a uma maior gama de pessoas, transformando o senso comum em bom senso. Somos tentados a glória do primeiro lugar, do ineditisimo, e esquecemos disso, que na sua carta você diz, diferencia o norte (aí onde você está) do sul, daqui. Ou seja, a Europa já é mais receptiva a descobertas cientificas do que nós daqui. E penso, até mesmo enquanto psicólogo, que não damos devida atenção às práticas moralistas e religiosas que temos aqui, algo que deveria ser inteligentemente investigado. Sei que hoje nessa nossa cidade devemos ter algo em torno de 2 a 4 vereadores evangélicos, e pois como é sabido, eles não são muito a favor nem do álcool, e nem das marquinhas de biquíni (e se resolvessem baixar uma lei proibindo essas coisas, e aí o que seria da gente?). Falta no mundo uma boa divulgação cientifica num sentido de ser realmente boa, mas também interessante e popular.
Quanto a questão da temperatura ideal, tendo a concordar, mas penso que você não deve ater-se muito a essa informação, pois sei que haverá, aí, de esfriar ainda e aqui de esquentar. Já acho isso até meio bobo, mas que nos estados críticos faz sentido, isso faz.
Eu queria uma carta leve, mas ousarei mais uma vez te provocar quanto a sua saudade. Ando com essa tendência meio perversa, mas sei que acabo de chegar do Cartola, hoje domingo, fui sozinho, uma amiga - dessas que se tocassem campainha na minha casa fora dos horários civis eu acabaria abrindo a porta e não me responsabilizando por coisa alguma- me acompanhou numa cerveja pré-ida ao cartola no bar em frente. Lembra do bar em frente? Esse é o da frente do Tatiara. A moça só me acompanhou na pré-cerveja, o que foi uma pena. Fui ao Cartola sozinho e lá vi uma senhorita que me lembrou prontamente vossa senhoria, pois essa te deixaria louco. Morena jambo (reconheces essa cor?) cabelos pretos e curtos, um metro e 73 e um jeito de quem sabe trabalhar as ancas e todo o resto. Apesar de não ser ‘forte’ (daquele jeito que você gosta), era esbelta (mais pra mim e pro Flavio), mas sei que você se apaixonaria, muito por causa dos cabelos. E lá também se encontrava aquela pela qual você já derramou suspiros e versos, aquela de nome igual ao da cantora de sobrenome “o rei dos animais”. Ela estava linda.
Chico o sangue não corre sozinho em minhas veias, há, no dia de hoje, moléculas de álcool, mas eu, eu corro sozinho (um pouco por opção) nessas nossas ruas. Sei que minha solidão não é nada frente a sua, mas tenho certeza que tudo passará, e no final sobrarão gratas surpresas e alegrias (acho que isso é do Braga). Ando me pegando a imitá-lo indiscriminadamente. Tenha uma dele, que secretamente acho a mais bela, na qual diz (momento para copiar do original):
“E se entre meus leitores há alguma pessoa que na passagem do ano teve apenas um amargo encontro consigo mesmo, e viveu esse instante na solidão, na tristeza, na desesperança, no sofrimento, ou apenas no odioso tédio, que a esse alguém me seja permitido dizer: ‘Vinde. Vamos tocar janeiro, vamos por fevereiro e março e abril e maio e tudo o que vier; durante o ano a gente o esquece e se esquece; é menos mal (...) Coragem, a Terra está rodando; vosso mal terá cura. E se não tiver, refleti que no fim todos passam e tudo passa; o fim é um grande sossego e um imenso perdão’.”
Só pra finalizar amendoado diz mais da forma e não da cor, e não é arenque e sim Arendt, Hannah Arendt. Uma mulher dessas que apesar de feia deixaria homens como eu e você (ou seja, homens tolos) seriamente apaixonados. Uma mulher mais inteligente que a gente.
Só espero amanhã dar uma retocada nesse texto, pois sei que você é um puritano quanto a nossa língua e procurarei reduzir os erros. Espero conseguir. Boa noite.

2 comments:

Prós said...

Pois é... li, tentei ensaiar um texto resposta, mas não saiu, daí vou responder por aqui mesmo. Não tô a fim de divulgar ciência também não, pelo menos não como atividade principal. Quanto ao Cartola, foi sacanagem comentar e o nome da garota ficou muito mal maqueado, todo mundo entendeu -- faltou sutileza, mas também não importa, elas têm mesmo que saber que estamos interessados, é a lei da natureza. A frase do Braga é boa e a desculpa do amendoado foi esfarrapada. Quanto aos erros no texto, dessa vez só peguei um "Tenha" que deveria ser "tinha".
Falou, bródi! Abraços!

Anonymous said...

eu gostei!