Thursday, November 24, 2005

Posicionamento

Como é importante o posicionamento. Ocupar um lugar na terra, no momento certo, garantir o deslocamento preciso. Saber não estar em situação de impedimento. Em segundos, se movimentar e aparecer ali, onde não havia ninguém e garantir alegria. E a dor dos outros. Penso em como ela se colocava na minha vista, naquela semana, como ela aparecia no meu campo visual como se aquele caminho, que não era o do seu cotidiano, o fosse, e aí eu, eu no meio campo não lançava a bola, sempre com medo do tal impedimento. Impedido. Zero a zero.
A única alegria dessa segunda-feira, que podia ser até fevereiro, é saber que por um mistério, que a cada dia penso continuará eternamente um mistério, ela confiava nos meus lançamentos que nunca partiram. Imagino ela, ali, sempre no ponto certo, na frente, mas na mesma linha dos zagueiros, só esperando o lançamento e eu, e eu, eu...eu jogo pra trás, não confiava nas pernas, prendia o lançamento, e pensava que logo, logo apareceria uma outra chance. Ela voltava, se posicionava perfeitamente, sem ser óbvia, mas além de desmarcada, se encontrava continuamente bem posicionada; e durante uma semana ficou na minha frente e desenvolvi algumas tabelinhas que não deram em nada, e alguns passes errados, e tropeções, e ela subitamente (claro que não foi subitamente) saiu do campo, da visão, da minha vida efetiva.
Permaneceu com outro uniforme me torturando e lembrando que alguns passes devem ser feitos num momento tão único que dói, dói de ter lançado a bola no ar, na vida, solta como a um destino próprio que seria aquele nosso. Como aquele primeiro e único lançamento que fiz, e que ela com toda graça do planeta respondeu ultrapassando-me em classe e categoria, e fazendo o gol.
È o único pensamento bom que resta. É o que me sobrou daquela menina, desmarcada, sozinha naquela cantina lendo um livro, enquanto eu passava. Torturo-me com essas lembranças. E o que me dá um pouco de sal, de sumo, de mel é saber que por um momento ela confiou nas minhas pernas, no meu ir que acabou não “fondo”. Essa certeza que só existe em mim, mantém uma certa esperança. Arruinado pelo êxito, prorrogador de prazer e auto-sabotador, vivendo do que nunca aconteceu, um tipo vil, baixo. Um meta analisador da vida humana, um diretor de fantoches a brincar com a vida. E foi o momento que passou. Ela deveria desexistir para mim e ser chata e triste e não permanecer nas minhas angustias daquilo tudo que eu deixei de ter sido antes de ser.

8 comments:

Prós said...

Se trocar o xis pelo esse e o esse pelo xis, fica uma crônica muito boa! Gostei de acordo!

Anonymous said...

Tb gostei. So n entendi o q impediu uma finalização eficiente. Talvez, assim, n teríamos essa crônica né...Chegou sua vez de explicar...

Rafa Pros said...

Provavelmente ficariamos sem a cronica. E uma finalização eficiente tb não é uma de minhas especialidades, como atesta o texto do Chico Prós postado aqui há pouco tempo.
Mas a sua pergunta é "A" pergunta. Pq não fiz nada nesse caso tão especial? Acho que o texto desse link, aqui embaixo, é uma boa partida...(http://www.ateus.net/artigos/miscelanea/desilusao.php)

Anonymous said...

Rafa, pensei n coisas a respeito do texto e d nossos coments. Duas valem falar, bobeira isso d q se vc tivesse finalizado n teriamos esta crônica. N haveria esta, mas haveria outras, talvez mais belas. Outra, acho q vc devia ter dado a oportuidade da garota finalizar pra vc, ela teria feito melhor...Qnto ao texto, n sei se entendi o q vc qria, mas ainda assim acho q n justifica...e quando o li, lembrei só de um outro, lindo; por ser simples, q vc deve conhecer e q deveria ser lido por nós todos os dias. Dá uma olhada e...foi mal pelo sermão,talvez tenha mais a ver comigo do q contigo... Bj

http://www.releituras.com/mcolasanti_eusei.asp

Rafa Pros said...

Quanto ao texto que eu coloquei, eu não queria nada mesmo, não :) Nada dessas coisas que a gente programa para acontecer. Achei bonito e triste. E acho que é um pouco de mim, sempre esperando mais da história e no final dizendo "Mas é só isso?". Acho que isso se aplica a essa caso da cronica. Só que hj eu não diria essa frase dessa história particular.
Quanto a esse texto da Marina Colasanti é estranho...muito estranho, ando pensando nele quase todo dia...Estranho vc falar dele...e não é pouco..acaba abalando meu ceticismo...Essa frase deveria virar café da manhã "agente se acostuma mas nao devia"...

Anonymous said...

Ganhei o dia com o seu comentário...Tá vendo o qnto é simples fazer diferença na vida das pessoas, acontece até sem querer.Qnto a cronica, entao n foi "so isso"? Olha, se vc achar q to invadino demais seu espaço aki da um toq q eu paro d postar. Bj

Rafa Pros said...

Achei lindo esse comentário seu...sei lá, ele todo é lindo. E obrigado. Saber que algo que falei te faz valer o dia me dá a mesma sensação. Quanto ao só isso, acho que já ficou claro o choque que essa magrela causou na minha pessoa. Definitivamente não foi só isso.
E tb não sei se esse é o melhor lugar de abrir o coração, mas talvez não haja lugar para essas coisas...Não pare de postar, de qualque forma. Um bejo

Anonymous said...

Só vou pedir pra vc ser mais indiferente a mim, menos atencioso... pq do jeito q ta vai rolar mta transferência virtual e eu vou acabar apaixonada por vc...d novo!!! Foi...(!!!)Bj