Thursday, May 19, 2005

Metafísico aos três

Rafael Prosdocimi
O menino andava naquela manhã de sábado, sendo que na verdade esse último nome ele não entendia muito bem ainda não, e dizia “chábdo” repetindo mamãe; mas só sabia que havia dias que seu pai o pegava e o levava pra passear, os adultos chamavam esses dias de sábado, o que ele aprenderia mais tarde, com facilidade. Gostava muito desses dias de passeio naquela praça sempre cheia. O garoto gostava ainda mais de ir com seu velotrol pra longe de papai e de mamãe, e nessa distancia se colocar a ver as coisas ao redor. Um contemplativo. Ficava olhando ao redor as cores, as formas, os tamanhos e ficava encantado com algumas coisas e não com outras, o que de forma alguma o fazia pensar no porquê de sua felicidade, era uma contemplação profundamente material, mas, sobretudo e, principalmente, desinteressada na suas causas intrínsecas ou extrínsecas de ser. O menino nunca se colocaria a pensar coisas que a vida não dispunha para que ele pensasse. Nisso sua atenção, seu interesse na vida era genuíno, tudo era um pouco novo e qualquer coisa diferente que aparecia na frente dos seus olhos produzia algum sentimento. E o menino agora longe dos pais, andava pela praça, andava com seus cabelos cacheados e compridos, andava lentamente no seu veículo, e de vez em quando parava e olhava algo por bastante tempo. Olhava um carro de policia, uma moça de cabelo cor de amarelo com um outro menino no colo, um rapaz sem tênis. Era um garotinho especial e fazia da vida algo belo só de ficar parado olhando. Tinha esse ar dos filósofos, mas sem a impertinência e arrogância, não se perguntava ainda, felizmente, se o que ele via com toda encanto e beleza, se isso tudo que era maravilhoso, era algo que só a ele era mostrado ou mesmo revelado; sendo que a dúvida de todo mundo pensar o mesmo que ele, ou não, pouco o interessava, pois não existia.
Num determinado momento o menino parou e olhou pra cima e de sua face surgiu algo tão belo, tão espontâneo, um sorriso tão aberto e honesto, um sorriso que comporia resposta a muitos dos problemas existenciais de seu pai, se ele estivesse por perto. O menino ficou aí parado olhando pra cima, sorrindo. Foi aí que uma dona surgiu e viu naquele rosto lindo tanta luz e brilho que quis ver o que o menino via também, e assim como ele, sorrir sem motivo, sem motivo de se precisar sorrir por dinheiro ou por outra pessoa mesmo. Ela olhou na direção daquilo que o menino via, e achou primeiro estranho, e depois pensou que o menino era burro, pois só viu uma placa de transito, uma que dizia PARE.
É menino, por favor, continue procurando algo belo e se entusiasme por essas coisas. Que você seja sempre lindo e implacável com a preguiça, que a beleza da vida o mantenha assim, desse jeito que te vi ontem pela manhã. Que você seja feliz num mundo belo, que você seja esperto e ágil com os estímulos, e que continue se encantando e sorrindo sozinho, desejo ainda mais que você suporte tudo e todos, pois eles sempre o chamarão de louco pela vida a fora.

No comments: