Thursday, May 26, 2005

Morro sempre

Morro mais em seu beijo ausente do que na bala que alguém cravou no meu peito.
Mais na mão que solta a minha do que nessa doença incurável que me apodrece
Morro mais todo dia do que nesse único no qual irei em definitivo ao cemitério
Não ligo para essa bomba no meu peito que faz circular esse liquido vermelho
Do vermelho só gosto do seu rosto quando voce imersa em vinho ou quando nervosa
E do coração só me lembro dele quando te vejo e ele cisma em perder o controle, que nunca teve
Estúpida maquina humana, estúpido funcionamento que muitos chamam de vida, quando deveriam chamar de manutenção maquinal
Essa vida com “v” pequeno que consiste na odiosa máquina continuar em movimento
Apenas um pré-requisito básico para que algo possa ocorrer
Nada de chamar esse funcionamento bobo e fácil de Vida, com o “v” grande
A valorização desse mecanismo tão tolo desvaloriza a Vida que importa
E é por isso que só posso morrer nessa Vida com “v” grande, a outra morte não me importa
Mas se morro tanto nos seus beijos ausentes, nos teus carinhos de outros tempos, em sua nudez já e agora castigada pelo funcionamento maquinal como me preocupar com uma máquina
Mas dirão alguns que é a “vida” pequena que possibilita a outra grande
Sim direi eu, mas não há como se lembrar de uma pensando na outra
A vida que me importa é essa de acordar triste e sozinho em uma cama gostosa
A vida que não me importa é a de ocupar um espaço geográfico
Só desejo ocupar um espaço em desejos alheios
Que se lembrem de mim, já amei uma vez. Já me basta.
Morro todo dia, morro na menina que só quer um celular novo , morro mais na moça triste, mas ainda mais naquela muito alegre, que ao contrário da triste, ainda não percebeu o tamanho do problema.
Minha morte só é intervalada por goles de café, sorrisos femininos, palavras de Rubem Braga, pensamentos de Nietzsche, observações de Vinicius, navalhadas de Machado, lembranças de uma mulher nua, tentativas de alegria, futebol e cerveja.
A morte cessa nesses momentos a Vida ameaça surgir e a morte recomeça, e assim nós vamos indo, sempre morrendo, até que as mortes um dia coincidirão.
E a máquina pára.
Rafa Prós

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