Tuesday, May 31, 2005

Morrer jovem

Quero morrer jovem. Descobri isso outro dia, quando vi a noticia do assassinato da menina Gabriela lá no Rio. Fiquei triste, mas de forma alguma surpreso. Todo dia, quando me levanto, penso que talvez não retorne pra casa. Encontrar um moleque cheirando cola por aí querendo meter a faca em alguém, é mais comum do que se pensa.
Nada disso, no entanto me impede de sair à rua pra ver os carros passando todo dia. Se eu ficar velho quero ser desses velhinhos que levam os netos pro parque, e ficam dando comida pros pombos e observando os casais trocando caricias, lembrando de alguém que talvez eu ainda não conheça. Gosto de viver a vida dos outros, mais do que viver a minha própria. Voltando ao inicio desse texto, eu disse que queria morrer jovem e agora vou explicar melhor. Quando da morte da menina, um enorme rebuliço tomou conta da mídia, e de todas as frases ditas pelos pais, amigos e autoridades, uma saltou aos meus olhos: “...ela tinha um futuro brilhante pela frente”. Todos disseram isso. É por esse motivo que quero morrer jovem, quero que todos digam que eu teria um futuro brilhante, que eu seria um excelente trabalhador, marido, pai de família. Não quero ter que viver meus próprios fracassos; eu quero a moleza de, mesmo no mundo da imaginação, ter sido o melhor dentre todas as possibilidades. O interessante de se morrer jovem é que todos constroem uma vida perfeita para o defunto, não há mais drogados, futuras prostitutas, fracassados ambulante todos os mortos teriam sido dotados de um futuro de luz e alegria. A vida é um pouco mais complicada que isso. Imagino meus amigos e familiares lendo meus textos e dizendo entre soluços e lagrimas o quanto o Brasil perdeu na minha pessoa, o quanto a vida ficou mais triste com minha partida. E quero todos chorando. Acho que para que isso ocorra devo morrer até os 24 anos, ainda estudante, ainda podendo me dar ao luxo de vadiar sem ser tachado de vagabundo, fracassado. Que todos digam o quanto eu fui o melhor em tudo , o quanto era o mais engraçado, o quanto era querido , que me digam tudo isso nos seus sonhos, já que nunca me disseram quando vivo, embora eu sempre soubesse.

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