Thursday, October 13, 2005

Apenas um Bar


“Aquela puta não tinha nada que mandar esse convite”. Eu pensava nisso enquanto queimava a merda do papel. Sentado no balcão de um bar qualquer, lembrava dessa mulher que quase me fez querer casar, ter filhos e levá-los todos domingo ao zoológico, o que, pensando hoje me dá uma desagradável sensação de tédio e aborrecimento. E um pouquinho de nojo também. Como matar baratas descalço.
Como eu fazia antigamente, com relação a suas ações sempre tão estranhas, irracionais e tolas (ou seja: femininas), pensava nos motivos dela me convidar para o seu casamento. Algumas possibilidades: diria ela, talvez, que se esquecia de mim de vez, mas que continuava me achando um cara “legal e bacana” e materializava tudo isso nesse papel caro, fino com seu nome ao lado do nome daquele filíádaputa e endereçado a mim; diria nesse papel, que fazia questão da minha presença no seu casamento, e me convidava do tanto que eu havia me tornado inofensivo. Ou estaria ela pedindo que eu chegasse lá e impedisse toda aquela bobagem, interrompesse aquela festa babaca, a levasse pro um quarto qualquer e acabasse com ela, daquele jeito. Como naquele apartamento do qual ela sempre me dizia, após a cena (em todos os seus atos)... “Ai...Ai... será que tem jeito de ser melhor”. Que bosta ser um romântico, tudo tão fantasiado e floreado que às vezes a gente até acha graça na vida e não se mata de beber.
E esse merda aqui na minha frente que fica olhando torto, que droga de barman. Não se pode mais beber decentemente e queimar convites de casamentos de paixões antigas, mas nunca apagadas, tranqüilamente? Que paradoxo, queimar o convite para apagar a paixão. Em que país vivemos. Ele me olha torto, com essa cara de mau, de valente, camisa sem manga, braço mais gordo que forte, com tatuagem típica de presidiário de filme americano, mas que deve, no fundo, viver com a mamãe e tomar café da manhã com sucrilhos. Não sei se peço a décima cerveja ou se quebro a cara dele. Talvez pedirei primeiro a cerveja e depois, se ele encrencar, quebrarei o cara.
Peço a cerveja que vem sem problemas, o que é bom, porque talvez esse barman fosse mal mesmo, o que em nada ajudaria na minha dor de corno. O que ajudaria mesmo, nesse momento, seria uma boa trepada. Uma dessas com carinho. Mas sem amanhã. As mulheres confundem carinho com amor. E confundem amor, como “monopólio afetivo”. E estendem essa forma de domínio e controle a toda eternidade. Qualquer demonstração de carinho, da minha pessoa, pode então ser entendida como uma proposta de “monopólio afetivo eterno”, e não tem nada disso. Como aconteceu com essa puta que se casa amanhã. Encheu meu saco, cobrando casa, casamento, filhos, jardim. Não que eu não gostasse dela, só não fazia sentido com uma vida apenas, gastá-la todinha com essa moça com cerca branca, contas e fralda suja. Se bem...Se bem o caralho.
Um dia fodido de trabalho, funcionário público, bêbado, abandonado (por opção), ex-amor da vida inteira com casamento pra daqui a 24 horas, só uma boa mulher me faria um bem agora. Elas que sempre me atordoam, nos olhos, ombros e carnes. E aquela puta ali atrás que fica me olhando, não desgruda o olho de mim. Ah, mulher.
Putas profissionais são boas porque elas vão embora, apesar de cobrarem, o que me dá nos nervos. Inclusive penso que pagamos apenas para elas irem embora. Eu sempre acho que o que gastamos com prostitutas é menos do que se gasta com as outras, ditas, amadoras. Sabe como é a piada: “a diferença de sexo pago e sexo de grátis é que o primeiro sempre sai mais barato”. Mais isso de pagar explicitamente pra dar prazer a uma mulher, onde já se viu. Olha essa aí: Ancas largas, cabelos desgrenhados (mas que podem ficar ainda mais) uma cara de safada. Só mais umas cervejas e vou lá.
Peço mais uma cerveja pro barman que diz que “é hora de fechar amigão”. Odeio esses caras que dizem, amigão, como se isso impedisse, que eu, a qualquer hora, ficasse puto com ele e o mandasse a merda, de punho cerrado. Olho ao redor e realmente o bar está fechando, além de mim estão a puta que me espera, um velho pianista negro toca ao fundo, totalmente chapado, e acompanhado de uma velha que já não se agüenta em pé. O papel do convite queima lentamente em cima de um cinzeiro. Visto meu chapéu, pago a conta e vou embora. Olho pra puta que vem na minha direção. E você que seja feliz por toda eternidade, porque felicidade a vida toda deve ser uma merda, além do quê deve dá muito sono.

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