Saturday, October 15, 2005

NOTAS DE UM SAMBA, QUALQUER UM...

Ela rodava com uma saia branca que subia naquele tanto que apenas estimulava a fantasia da visão pura de seu corpo. Aquele sujeito que a rodava, achando que com ela dançava, pegava em sua cintura com descuido, mas nesse pegar, sua blusa subia e a pele, a carne da barriga, da cintura, ficava à mostra e ela rodava e rodava, e ria...e nesse fenômeno de uma linda moça rodando, eu vi algo que tem gente que olha pra uma tela, uma escultura, uma obra de arte e vê... Mas ali era a própria vida, que sorria e dançava, e não comigo. Sempre não.

Papai! Papai, quando eu crescer eu quero uma menina igual àquela com o pandeiro ali ,e a quero sentada na minha sala a tocar pandeiro e olhar pra parede, mas a quero o dia inteiro.

E essa aqui...Ela vem pro meu lado e finge um charme que eu traduzo rapidamente em desespero, e jogo com essa moça que não só é feia, mas, sobretudo, desinteressante e que deve gostar de Maria Rita e fazer faculdade de direito.

O samba é um bom substituto da religião. É um fenômeno de salvação. Eu sambo como quem reza, o que significa que acredito muito que o samba pode tudo, e faz dessa vida uma possibilidade.

Ela e a irmã estavam ao lado e eu não saberia dizer por qual batia meu coração. As duas funcionavam no mesmo comprimento de onda do samba, como eu, o que só significa que nossos corpos eram só a continuação da batida e que todos estávamos materialmente ligados ao pandeiro, que é o mais charmoso e fino instrumento do samba. O rei. Já que é o que menos fala e o que mais define o andamento do resto. Eu proporia a alguém, mais gabaritado filosoficamente, um tratado sobre o assunto. A saber, a responsabilidade do pandeiro, sobre o meu, o nosso coração, a nossa vida, pois o pandeiro é quieto, calmo e repetitivo e totalmente necessário. Elas dançavam e riam e dava pena desse euzinho aqui que ficou olhando, e participando da vida assim, sem pudor e nem vontade de que qualquer coisa fosse diferente.

1 comment:

Prós said...

Doido demais esse aí. Chega até ser meio surreal, o que dá um estilo bacana. Acho que vc não precisa de encontrar ninguém mais gabaritado não...