Sunday, January 15, 2006

As bonitas que me perdoem...

Há uma beleza que foge a todo e qualquer padrão. E nada é mais belo do que essa mulher que é linda, quando deveria não o ser. Uma beleza que vem de um lugar desconhecido, pois não há simetria, os olhos não são azuis, e o corpo não compensa em volume, agregado à rigidez, aquilo que falta ao rosto. A idade muitas vezes avançada marca esse rosto que acaba cedendo à devastação. E de tudo que havia para essa mulher ser feia, ela não é de forma alguma. E em alguns casos é linda, e isso dá um gosto na vida tal, que encobre tudo de ruim, inclusive aquilo que é pior: Essas mulheres que deveriam ser lindas e que são feias; talvez pela domesticação já em processo irreversível, e esse olhar obtuso incapaz de um brilho, apesar de formas geométricas esplendidas, de deixar o Euclides boquiaberto.
Uma mulher bela não-contingente, independente de quaisquer fatores. Essa que não pode ser definida por categorias, e que escapa a qualquer enquadramento. Você olha e a sensação física de que ali a vida fez sua casinha e ficou é forte o suficiente para impedir a razão, e a domesticação social, de pensar beleza em termos dessas modelos de propaganda. Em termos de centímetros e quilos. E essa beleza pequena, essa do glamour, das medidas, que a gente propaga e divulga por aí, esconde, essa outra, que é A Beleza. Algumas mulheres velhas contêm nos olhos tanta vida, tanto pesar que muitas vezes é isso que transparece pra mim em forma do belo. Há uma jovem senhora, que trabalha num clube e que me olha nos olhos, com tamanha presença, quando lá chego, que me encanto todo nesse seu olhar generoso, e aí já me coloco a imaginar coisas. Ela é linda de se acordar do lado, depois de uma noite de amor, e é isso. E não ha outro nome. Outras de ventre volumoso, de ancas largas, de corpo, às vezes torto, fraco como um galho. E não chamaria de charme ou estilo, algo assim, é beleza mesmo. E isso me é tão caro, saber que algo que eu não sei o que é e que habita o meu mundo, cria sensações que não foram previamente definidas. “Aquilo que não deveria ser, mas é”. Peço a esse “mas”, toda força do mundo em arrebentar essa idiotia da “exceção”, esse fantasma poderoso, esse inimigo da vida. Esse silenciador de verdades criado pelos procuradores de padrão. Chamar de exceção uma coisa é a melhor maneira de manter o padrão inquestionado. “Toda regra tem exceção”. Muitas vezes não há regra meu chapa, e se você a criou, tentando universalidade, é só porque, VOCÊ, não dá conta de viver com a angustia do instável. Por favor, dirija-se a um analista mais próximo. Essa beleza que independe de fatores é a única coisa que há de real, o resto é só fantasia tola na sua cabeça.

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