Wednesday, February 23, 2005

Um encontro absurdo

O encontro se deu em uma noite de sábado, no Reino Encantado do Estereótipo, um lugar lindo, maravilhoso, onde tudo é estereótipo e costume, desde a princesa que vive na alta torre e espera por um príncipe, até a velha bruxa que impede a felicidade “para sempre” da princesa, mas nem a bruxa sabe o porquê disso tudo. De qualquer forma lá vivia a Patricinha, filha da senhora Perua com o senhor Velho Cheio da Grana Que Está para Morrer, e o Intelectual, filho da Comunista com o Professor Universitário. O que importa nessa estória é que esses dois se encontraram, por razões que nem a mais alevantada imaginação poderia conceber, o que de fato não importa no desenrolar da trama. Mas de fato o Intelectual conhecia a Menina Vulgar que era prima da Patricinha, por parte de mãe, e a Vulgar achou que seria um bom encontro entre o intelectual e a Pat. A Vulgar era irmã mais nova do Menino Burro.
Chegaram ao restaurante separados, ela no seu carro novo e ele de bicicleta, não que fosse um atleta, como eu disse antes ele era o Intelectual. A bicicleta, segundo o próprio, é um meio de transporte não poluente, e de acordo com seus cálculos, a poluição haveria de consumir o Reino em 204 anos. Ela já haveria morrido até ai, pensava nossa intrépida personagem. Sendo assim não importava muito que poluíssem o Reino, ela não estaria lá mesmo.
Ele queria uma mesa para não-fumantes, ela queria para fumantes. Sentaram em uma mesa que se encontrava no meio dos dois espaços.
- Por favor um vinho nacional – disse o intelectual.
- De forma alguma só bebo estrangeiro. São os melhores vinhos. Os daqui são de péssima qualidade. Retrucou a mocinha,
- Os daqui só são péssimos, porque ninguém os bebe, se todos bebessem o vinho nacional ele iria melhorar a qualidade...-o intelectual então ministrou uma aula de economia em vinte minutos.
Dessa aula nossa amiga só entendeu que ela deveria tomar vinho péssimo para que alguém no futuro tomasse vinho mais barato e de boa qualidade, o que de fato não a agradou. Continuaram a “conversar”.

O intelectual ajeitou os óculos que cismavam em cair no nariz, e que ele achava um charme, mas ela não. Ao ajeitar os óculos ele visualizou os seios pós-siliconados da Patricinha e suas pernas torneadas por 3 horas de academia, o que ela achava lindo, e ele também. Ele então tentou puxar papo.
- Mas e você gosta de ouvir o que ?
- Eu gosto muito do Junior, da Sandy, da Britney e Do N’sync.
- Junior você diz o Fabio Júnior?
- Eu to falando da dupla Sandy e Junior, além do mais o Fabio Junior é ator da globo, que aliás tem o maior rolo com a Patrícia de Sabrit, que voce sabia é quase 20 anos mais nova que ele...blábláblá...- Em meia hora se descreveu todo o circo de relacionamento do meio “artístico” nacional. Afinal todo mundo rodava com todo mundo. A maior camaradagem.- O intelectual se fingiu de interessado, mas há muito tempo não ouvia tanta bobagem assim.
- Bem e você, gosta de que tipo de música ? Disse a gatinha...
- Eu gosto muito do Raul, dos Beatles , Led Zeppelin, e dos mutantes , mas a primeira fase, depois eles ficaram meio pop.
- Eu também adoro a Vampira.
- Mas quem é essa ??
- A vampira dos Xmen. Você não disse que gosta dos mutantes? Eu também gosto, mas gosto mais da Vampira.
- Mutantes é uma banda de música. Foi uma inovação na época, meio que abriu as portas para o rock’roll nacional. Tinha até a Rita Lee.
- Sério...A Rita Lee tinha uma banda??
- Claro... foi o maior sucesso.
- Eu também gosto muito daquela música dos Beatles. Satisfaction.
- Não... isso é Rolling Stones. Você ta confundindo tudo.

O intelectual já pensava com sua boina – que ela achava ridícula, porque de fato era ridícula- “...se ela não fosse tão gostosa eu já tinha me mandado...”
A moça estava com a impressão de que conversava com seu pai. E aquela boina na cabeça, será que devo avisar que está ridículo, pensava ela...

- Já vi que nossos gostos musicais são bem diferentes- Comentou a moça.
- É...mas eu não acredito em gosto musicais , para mim a cultura de tal pessoa reflete o grau de inserção intelectual ...-Mais uma aula de sociologia do garoto. A moça se lembrou do velho professor careca de sociologia da faculdade de direito.
- Anh...- O primeiro comentário inteligente da Patricinha.
- Você gosta de TV? emendou a mesma.
- Eu vejo muitos filmes, alguns documentários, principalmente sobre a vida marinha e sobre as religiões orientais.
- Eu também gostei muito do Dalai Lama, vi outro dia ele no programa da Ana Maria. Ele é demais.
- Mas eu prefiro ler. E você gosta de ver o que na Tv?
- Olha ...eu gosto de tudo, novelas , menos essas das 6 que é muito fraquinha, Faustão, Xuxa, todos os programas de beleza...-15 minutos de minuciosa descrição televisiva.
- Ler?
- Contigo, caras, Istoé- gente. E você
- Tolstoi, Freud, Garcia Márquez, todas as tragédias gregas.
- Cinema?
- Adoro suspense. Mas gosto de comédia também. O melhor filme que eu já vi foi : “As patricinhas de Beverly Hills”, aquele filme é tudo.
- Gosto de iranianos. Os franceses também são muito bons. Os brasileiros melhoraram muito. Mas “Casablanca” é imbatível.
- Não é lá que mora o presidente dos EUA?
- Lá onde ?
- Na “Casablanca”.
- Casabranca você diz. Casablanca é o nome de um filme antigo- Nossa, mas que anta. O intelectual costumava pensar que não deveria perder seu tempo com quem não havia visto Casablanca. Mas ...bem...ela tinha silicone nos seios. Ele concordou que nunca mais daria atenção para uma moca que não havia visto Casablanca, salvo se a mesma tiver um corpo escultural.
- Bebida ?
- Champagne, Scotch...12 anos.
- Só cerveja e às vezes um vinho.
Os dois começaram a se irritar um com o outro, nada parecia interessar aos dois. O papo simplesmente não fluía. O intelectual estava nervoso, pensara ter encontrado seu inimigo numero um. A patricinha só não entendia como aquele individuo ainda estava vivo...e as roupas dele que horror, nada mais barato. Nenhum Calvin, Tommy ou Oakley. Ele então tomou as rédeas da conversa:
- E sexo...?
- Como? Oi? Hum? Fingiu ela não ter entendido a pergunta.
- Gosta de transar...Sabe... fazer sexo?
- Sim...é claro. Respondeu ela, um tanto tímida, mas feliz por ter achado algo que ambos concordassem.
- Que bom...eu também.
- Já que nós não podemos ir a um show de música juntos, não podemos ir ao cinema, nem ver nada na tv, arrematou o intelectual malandro, podemos trepar qualquer dia desses, o que você acha?
- É ...bem...não é uma má idéia.
- Então vamos agora mesmo.

Seguiram para o motel. Ele nem acreditava olhando praquela escultura natural, bem... nem tão natural assim. Ambos pelados , disse ela:

- Tá... mas eu fico por baixo...
- Ah não... fica em cima.

1 comment:

Prós said...

Ei, acho que vc ainda não tinha me enviado esse. É legal e, vc vai me matar, mas parece um texto feito pelo Luís Fernando Veríssimo. Pra mim é um elogio que te faço, mas vai saber...