Sunday, March 06, 2005

O previsivel

Hoje dia 15 de maio, de um ano qualquer de minha vida. Acordei como sempre acordo, com frio e preguiça, mais frio. Fui praquela aula modorrenta de algo que eu sei não ser psicologia social.
Fui com uma amiga minha de carona, uma pessoa que eu gosto muito, não sei direito porque, acho que tem a ver com o fato de ser uma pessoa, que eu tenho prazer e certa vontade em ouvir que diga as palavras. Ela não é nem a mais inteligente, nem a mais engraçada, tem ,em certa medida, ambos , mas apresenta uma característica que a difere de 95% das pessoas do mundo, vez ou outra diz algo que vale a pena viver uma vida para ouvir.
E dela ouvi as palavras, que me foram ditas em outra ocasião, por uma outra pessoa para a qual uma vezes eu disse “eu te amo”, sem muita certeza. Ela me disse, sem aviso prévio, as palavras : “...a coisa que você deve odiar mais, é que te falem que você é igual a todo mundo...” e “por tentar ser diferente você é o mais previsível”. Veio-me um sentimento de “sufoco”, misto com o de passividade, e a grande pergunta , “por que?”.
Meu dia passou na lembrança do “você é previsível”, é claro que sou, eu , brasileiro, heterosexual, bebedor de cerveja consto em todas as estatísticas como o brasileiro mais típico de todos.
Outra moça me chamou de alternativo; prefiro o previsível. Porque a necessidade de transformarmos todos em grandes garrafas de guaraná com seus rótulos estampados em suas caras e roupas. Uns dias depois uma moça, de nome Mariela, me disse que se eu sou alternativo, é porque eu tenho alternativa, capacidade de escolha. Gostei dessa definição, assim como dessa menina. Bem, que me chamem de alternativo então.
Danço com amigas, e rodo no salão, algumas voltas, muitas lamentações, me passa uma loura sem nome e a chamo pra dança. Ela, com certa lentidão, vem e dança comigo, sinto o cheiro de um perfume que não reconheço, e um olhar estranho, antecipo na mente um carinho. Os olhares se cruzam, vejo-me a sentir por antecipação o gosto de seu beijo...mas ...ela vai e beija outro, sem me avisar, sem me ouvir, e eu ...eu volto pra casa com aquela velha frase “você é previsível” ecoando. Sou demais... Por isso volto pra casa. A felicidade... essa é ainda mais previsível, e mais uma vez não me contempla com sua presença.
Mas essa previsível e triste solidão é, na verdade minha companheira , são esses dias de lenta calmaria, que fazem acontecer as tempestades que vez ou outra tremem meu navio. Se chovesse todo dia não iria reparar na tempestade. A vida se faz por comparação, relação como diria um velho físico com olhar de louco. Essa tristeza que agora me acompanha me fará um dia próximo feliz , muito feliz, mais feliz que esses que tomam champanhe todo dia, pois eu... eu só tomo champanhe no ano novo.

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