Wednesday, March 30, 2005

A Questão da Melancia

Eu gosto muito de melancia. Assim como a Magali. Comer melancia me lembra tomar água com sabor. “Ei moço me vê uma água daquele sabor melancia”, fica até estranho dizer “comer melancia”, já que não se come nada. Aqui em casa se compra melancia , e normalmente se deixa na geladeira, sendo que quem quiser um pedaço , vai lá e pega. É o que faço normalmente, nesse dias quentes de verão. Abro a geladeira e corto um pedaço da melancia.
Meus irmãos têm preguiça de cortar a melancia, sendo assim eles acabam comendo pouco, o que eu acho bom, pois sobra mais para a minha pessoa. Há pouco tempo, no entanto, configurou-se um problema marxista com relação à posse da melancia. Toda vez que chega a melancia, Rosane (empregada aqui em casa) parte ela toda em pequenos pedaços, e põe na geladeira. Em um pote. Sendo assim qualquer idiota que não consegue partir a melancia, pode se saborear da mesma, bastando o elemento, na posse de um garfo, pegar a melancia já cortada. A revolução da melancia.
Eu detentor da Faca que corta a melancia, do saber especifico do corte, fui despojado de meu poder , ou seja, de nada adianta saber como se corta uma melancia, pois ela já estará cortada e disposta a quem bem entender. Não importando se essa pessoa gosta de melancia ou não, mesmo que ela só coma por não ter o que fazer. Seria o mesmo que de um dia pro outro, todos tivessem acesso às maravilhas da medicina, sem precisarem pagar nada por isso, situação surreal. A democratização da melancia levou ao fato da mesma dificilmente durar mais que um dia aqui em casa, sendo devorada pelos glutões , sem classe, desmiolados do proletari...digo meus irmãos. O acesso ao sabor das melancias me era especifico, eu detinha o monopólio da melancia, sendo meus irmãos alienados do processo. A democratização da melancia coloca no mesmo patamar eu, que gosto muito de melancia, e por isso aprendi como se corta a melancia, e meu irmão que talvez nem saiba o que vem a ser uma, “há...aquela frutinha vermelha cheia de caroço...”. Os homens e mulheres são diferentes, há os que gostam de melancia, os de laranja e os de manga, e, portanto, há os que aprendem a cortar essas frutas , para deterem o poder de possui-las sempre que quiserem. Eu não gosto de mamão e, portanto, não sei cortar mamão.
O acesso livre à melancia fez com que meus irmãos não procurassem mais aprender a cortar a melancia, já que ela está sempre cortada. Digamos agora que a Rosane sofra um pequeno acidente, construído pela minha pessoa, ou que eu a suborne para não cortar mais melancia. Como meus irmãos ficam? Bem eles simplesmente vão parar de consumir a melancia, já que eles em momento nenhum aprenderam a corta-la. Eles não tiveram participação no processo, apenas receberam o bem, e eu volto a reinar no meu mundo de melancias.Mas enquanto eu não tenho dinheiro para suborna-la, todo o trabalho que eu tive para aprender a cortar a melancia vai por água abaixo, já que minha mãe resolveu fazer uma pequena revolução comunista na minha geladeira.

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